Depoimento Pessoal

“Os méritos da técnica mindfulness como abordagem inicial da meditação e abertura a temas mais profundos de realização espiritual

Encontrei mindfulness ao iniciar algumas pesquisas sobre técnicas de meditação que pudessem contribuir na saúde mental de pessoas idosas, de maneira mais natural, menos invasiva, haja vista, a quantidade de medicamentos e procedimentos médicos que a maioria dessa faixa etária consome.

A intenção era reunir três temas que gostava muito de estudar em minha vida profissional e acadêmica: pessoa idosa, memória e meditação. Ou seja, aplicar uma técnica de meditação que estimulasse a atenção do idoso, podendo ecoar positivamente em sua memória.

Assim que comecei o trabalho de campo da dissertação, vinha um julgamento em minha mente: “fizeram um fast food da meditação e colocaram um nome para impactar”. Porém, à medida que desenvolvia as oficinas de mindfulness com os idosos na universidade e ouvia seus discursos, tentava ir além do meu julgamento e intensificava minha prática pessoal de mindfulness, pois percebia seus resultados no dia a dia. Com isso, o desejo de conhecer a fonte dessa técnica aumentou, que de acordo com o referencial teórico utilizado na época, vinha da meditação Vipassana.

Alguns meses depois, fui a Brasília fazer meu primeiro retiro de dez dias de meditação Vipassana, em silêncio. Num primeiro momento, foi muito difícil, tinha a sensação de que havia um “corpo de dor”, porém, da metade do retiro para o final, senti uma conexão especial com meu corpo e minha mente. Voltando para a casa, no aeroporto mesmo, fiz minha inscrição para o próximo retiro; que ocorreria em três meses. Pensava: “mindfulness é a unha e Vipassana é o corpo”. Então, não parei mais e, durante quatro anos, continuei praticando. Contudo, comecei a sentir falta de algo, sem saber exatamente o que era.

Em 2019, mesmo sem saber o que faltava na meditação Vipassana, senti que era hora de conhecer outras formas de meditar e deparei-me com o Zen Budismo na internet. Escrevi-me para um sesshin com a Coen Roshi, em São Paulo;  foi simplesmente transformador, como se tivesse começado a quebrar um muro de pedra em meu peito. Pensava: “Mindfulness é a unha, Vipassana é o corpo, e Zazen é o universo, o todo”. Ao final do sesshin, conversei com a Coen Roshi, que me falou muito bem de Genshô Sensei.

Nessa época, já tinha começado a praticar em Florianópolis, mas entrava na sede, praticava zazen e ia embora rapidinho. Ouvia as pessoas falar do Monge Genshô, mas confesso que estava desacreditada em mestres, de viver em comunidade, pois há quase 25 anos estou nessa busca espiritual, acabei percebendo que na maioria das comunidades, não em todas, fala-se muito e pratica-se pouco, tanto as meditações como as boas condutas e/ou ações. Porém, com o passar do tempo e mantendo a regularidade na prática do zazen, senti que o “falar” e o “fazer”, caminham juntos na sangha e consegui confiar mais.

No início deste ano fiz o primeiro dokusan, já queria ter feito antes, mas achava que não poderia, “o que vou falar ao Monge Genshô?”. Contudo, foi um momento muito especial, não sei explicar em palavras, mas tive a sensação de estar no Caminho, até encorajei-me, finalmente, a fazer meu altar, que, até aquele momento, não tinha feito por ter certo pavor de imagens e rituais, mas isso desatou-se dentro de mim.

O segundo dokusan foi alguns dias atrás, eu estava um pouco angustiada, mas ao mesmo tempo feliz por conversar novamente com Genshô Sensei. Falei o que estava percebendo nas minhas práticas e que os meus sonhos estavam bem vívidos, manifestei o desejo de participar da cerimônia de Jukai e recebi algumas orientações do Sensei.

Mais uma vez, não sei ao certo o que aconteceu dentro de mim durante o dokusan, até agora não sei. Na noite daquele mesmo dia, tive um sonho muito forte, pulei em minha cama e falei alto: “agora entendi o que estava faltando… Faltava o Mestre”, naquele momento as lágrimas rolaram. Algo que parece tão simples, que eu já li a respeito, que já me falaram, no entanto, nunca tinha sentido. Cada vez que me lembro sinto uma forte emoção, transbordo em lágrimas de alegria, de felicidade, de amor, de compaixão e de gratidão. É como se o muro de pedra no meu peito tivesse desmoronado de vez e consegui encontrar o caminho de casa.

Gratidão Monge Genshô, sou eternamente grata por passar os ensinamentos de Budha, por reconectar-me com seu amor à esta sangha tão preciosa. Gratidão por acolher-me e por acolher todos nós!

Ainda sigo ensinando mindfulness; sem cultivar muitas expectativas, mas, talvez, possa ser uma abordagem inicial da meditação e abertura a temas mais profundos de realização espiritual, como foi e está sendo para mim.

 

Texto de Lenemar Nascimento Pedroso. Praticante na Daissen. Escola Soto Zen.

 

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