Os Paramitas no cotidiano


Prajna – sabedoria, discernimento, compreensão

Virya – esforço, diligência, perseverança

Dana – dar, generosidade

Dhyana – meditação 

Ksanti – paciência, inclusão 

Shila – os preceitos, treinamentos de plena atenção

Usar os meios hábeis como forma de nos redimir pelos erros e estragos que causamos.

Ao praticante é dado o direito de errar. Ao praticante 

só não é dado apenas um direito: o de não praticar. 

(Thich Nhat Hanh)

No Curso sobre Ensinamentos do Dharma, escutei a frase: “Não praticamos os paramitas para nós, praticamos para o outro”.

Os paramitas, pelo que tenho aprendido pelos estudos e no esforço de aplicá-los na vida diária, são uma bússola, com vários elementos interligados, em que um influencia o outro. Por exemplo, ao exercer a paciência (Ksanti), de alguma forma percebo que Dana também está presente. Ao ouvir atentamente alguém, geramos um sentimento positivo nessa pessoa e em nós também.

Tem também o lado difícil dos paramitas, que é aumentar a consciência sobre a nossa responsabilidade e isso nos exige uma mudança de comportamento.

Um exemplo é ter uma pessoa, como um filho, com sérios problemas mentais e comportamentais próxima de você. Sua vida toda você trabalhou para suprir as falhas dessa pessoa, assumindo responsabilidades que seriam dela, poupando-a – mas também tentando poupar os outros– de sofrimentos, porque se antecipava a situações ou consertava o que era possível quando as crises ocorriam. 

Percebi que meu comportamento gerou imenso sofrimento em todos à minha volta e não ajudou muito meu filho que também causou sofrimento a todos, inclusive a mim. 

Com os estudos do Dharma, da Lei do karma, da meditação (Dhyana), da reflexão tenho aprendido que esse não é o caminho. Que, ao impedir a pessoa de viver seu próprio karma, aumento o karma dela e o meu também. E para isso se tornar realidade, é necessário um esforço enorme, tanto interior, para entender que agora a pessoa é adulta e tem que enfrentar os próprios desafios, quanto exteriormente, na mudança de comportamento, que, aparentemente, pode estar gerando mais sofrimento para a pessoa. 

Paradoxal, né? Para o Budismo não poderia ser mais lógico!

Ao longo de mais de duas décadas de imenso esforço para criar um filho tão complexo, desenvolvi um pouco algumas virtudes, como a paciência, que hoje me ajuda muito em outras situações da vida diária. Mas, nem sempre a paciência (Ksanti) é inação, e isso o estudo do Dharma mostra claramente. É agir de forma responsável, compassiva, refletindo muito sobre as consequências de cada ação, tomá-las com firmeza (Virya) e atenta aos desdobramentos, ajustando o curso conforme as situações acontecem.

Dana para olhar o outro com plena atenção e compassividade, Virya para continuar e não desistir, Kshanti para identificar a origem do sofrimento e definir um novo curso de ação, Dyana para manter a mente equilibrada e Prajna para ampliar a sabedoria. 

E isso vale para as grandes e pequenas coisas da vida. Pode ser Virya para acordar cedo e meditar com a Sangha virtual, não comer aquele pedaço a mais de bolo porque não está com fome real. Pode ser Dana para ouvir a reclamação de uma pessoa que está sempre resmungando e, com atenção plena tentar entender o que está por trás da reclamação. Pode ser Shila e manter a atenção plena o máximo de tempo possível, em todas as atividades do dia, não só durante a meditação.

Não é nada fácil, como aprendi, vamos falhar miseravelmente, mas isso é bom, sempre podemos recomeçar! É um processo, com avanços e retrocessos. E essa é a beleza do Dharma, amplia e muito a nossa consciência, nos dá instrumentos para lidar com as mesmas situações da vida, de forma mais equilibrada, sem ficarmos à mercê de sentimentos superficiais ou convenções sociais.

Texto de Maria Teresa Stefani. Praticante na Daissen Ji. Escola Soto Zen.

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