No Zen budismo, o silêncio é ferramenta para estar no momento presente, buscar autoconhecimento e alcançar o despertar. O silêncio ocupa papel relevante em um sesshin (retiro budista), pois fazemos o voto de silenciar nossas palavras para aprofundarmos nossa prática, contudo mesmo sem o uso da fala, o silêncio movimenta os sentidos, porque ele é a condição do significar, na realidade, de acordo com Orlandi (2007), pesquisadora em Análise do
Discurso (AD), as palavras são atravessadas de silêncio, desse modo, quando falamos em movimento de sentidos, nos referimos a sua qualidade de ser impermanente.
Dito isto, silêncio é o fôlego da significação e seu princípio fundante (Orlandi, 2007). O silêncio possibilita o mesmo e o diferente na língua, assim como as paráfrases, dizer a mesma coisa com outras palavras, e as relações polissêmicas, uma palavra com mais de um significado, considerando a multiplicidade de sentidos como o centro de seu funcionamento, o círculo que não se fecha, como o Enso símbolo Zen, e sua dimensão na incompletude da língua. Por isso, o silêncio não é homogêneo, muito menos lógico, apenas significa, levando em conta aqui exclusivamente uma de suas formas, na perspectiva teórica da AD, que são suas condições para significar.
Por isso, no Zen budismo, as palavras são de certo modo desnecessárias para o despertar, pois estas individualizam, distinguem e evitam o silêncio. O silêncio não é ausência de palavras, ele simplesmente é, sem a necessidade de intelectualizar. Em Análise do Discurso, os sujeitos significam por meio dele, no movimento alternado dos sentidos, tendo em vista que, as palavras não têm significação em si mesmas, ou seja, em sua estrutura, mas permite que em suas formações discursivas, elas ressignifiquem. Portanto, sentar-se em Zazen é experienciar o silêncio de sua
mente, sem a urgência das palavras, é um modo de silenciar o ego, sem misticismos, nem a dualidade entre som e silêncio, mas sem esta condição, a harmonia não teria sentido.
ORLANDI, Eni Puccinelli. As formas do silêncio: no movimento dos sentidos, 6ª ed.- Campinas, São Paulo: Editora da Unicamp, 2007.
Texto de Carmem Lúcia. Praticante na Daissenji. Escola Soto Zen.