Monja Sodō, em 2015, foi para o Japão, receber treinamento no monastério de Kasuisai, em Fukuroi, na região de Shizuoka. Lá, escreveu alguns textos relatando detalhes do cotidiano e da prática. Relendo alguns desses relatos
tivemos a ideia de, com a autorização de nossa companheira de Caminho e irmã mais velha, a autora, publicá-los aqui no Budismo Hoje.
Atualmente, Monge Chūdō está concluído seu período de treinamento no mesmo monastério, cujo abade, hoje, é Saikawa Rōshi, o mestre de nosso mestre, Genshō Rōshi. Assim, 10 anos depois de escritos, esses textos, tão
bonitos desde sempre, ganham um novo sabor, pois Kasuisai foi ao longo desse período se tornando cada vez mais significativo para a nossa comunidade.
Em agosto de 2015, Monja Sodō chegava ao monastério e iniciava o seu Tangaryō, um período de isolamento e preparação pelo qual os monges precisam passar quando chegam para iniciar o angō. Lá, ilhada em um cômodo, separada de todos os outros monges, ela escreveu:
Tangaryō
Não sei que dia da semana é hoje, creio que domingo. Ainda é de manhã, pois não veio o almoço. O som do pequeno “Lago das Carpas” ao fundo me acompanha incessante, em paz, a seu tempo. Assim me sinto! Em total equilíbrio comigo mesma, com a natureza, com o mundo. É muito interessante como tudo acontece no seu tempo, no melhor momento, da melhor forma; quando estamos prontos para receber e dar o que for necessário. Cada um tem seu tempo. O tempo de fazer, o tempo de aprender, o tempo de ensinar. Em algumas coisas mais ágeis e em outras mais devagar. Mas, todos andamos, caminhamos… para onde?… Talvez alguns para dentro, outros para
fora. Respeitar o tempo dos outros e o nosso tempo é um passo para a harmonia, a harmonia da vida!
Aproveito a reclusão do tangaryō como um momento de preparação para a vida no mosteiro. Neste momento tenho tempo de estudar, descansar, de parar, de zazen. De voltar a mim mesma, ao equilíbrio e de deixar o mundo lá fora.
Sem pressa, sem ansiedade, sem preguiça, sem perspectivas… simplesmente aqui, vivendo plenamente o momento, aceito o que vem, aceito o que vai… respeito o tempo, o momento… sou muito grata por estar aqui.
Kasuisai, 09/08/2015
Dias depois, já se adaptando ao novo cotidiano, ela refletiu:
Vida no Mosteiro
No mosteiro, a vida pode ser muito feliz, muito boa e a pratica intensa. Tudo está pronto e planejado, não precisamos pensar ou se preocupar com coisa alguma. Somente deixar a vida fluir, sem medo, sem barreiras. Como Genshō Sensei fala, difícil é viver no mundo, com todas suas implicâncias, praticar e trabalhar pelo Dharma e pelo sustento.
A pratica no mosteiro pode ser meramente egoísta, autocentrada ou transformada em um belo caminho espiritual. Depende de cada um de nós, como encaramos as diferentes situações, como resolvemos nosso dia-a-dia. De nossa ética pessoal. Assim como na vida, “o caminho se mostra a cada passo” (Saikawa Rōshi) e depende de nossas escolhas.
Kasuisai – 10.2015
Assim foram suas primeiras vivências como monja noviça em treinamento no Japão e, hoje, relendo-as, nos sentimos próximos dela, de tudo o que viveu e sentiu e, também, do nosso próprio período de treinamento. Existe algo de
bonito e inexplicável em meio às dificuldades e ao trabalho duro da vida monástica, e o tempo ajuda a sedimentar todas as experiências e a dar destaque ao que mais importa. Na próxima edição, traremos aos leitores do Budismo Hoje mais algumas reflexões de sua experiência no Japão.
Textos originais:
Monja Sodō. Monja na Daissen Ji. Escola Soto Zen.
Organização e apresentação:
Monge Muryo e Monja Kakuji.