Votos ou Compromissos

As investiduras monásticas no Zen e em outras Escolas Budistas presentes no Japão desde o tempo de Dōgen Zenji, já eram feitas com os mesmos dezesseis preceitos das investiduras leigas atualmente. Os monges assim são pensados na missão de Bodhisatvas. Obviamente, o próprio estilo de vida monástico impunha suas regras a mais, seja para uma melhor convivência, seja pelas condições do templo/mosteiro.

Os votos monásticos são compromissos assumidos perante a comunidade. Não são como promessas que se fazem em troca de algo. Nem tampouco como juramentos de honra. Eles perpassam o Nobre Caminho Óctuplo, pois cuidam da Fala Correta, da Ação Correta, do Meio de Vida Correto, do Esforço Correto, para que se possa ter Pensamento Correto, Compreensão Correta, Atenção Correta e Concentração Correta. Expressam a senda ética monástica. Também não são como votos no sentido negativo, como se fossem apenas a restrição de algo, na verdade são compromissos, responsabilidades que se assumem a partir do momento que se entra na correnteza quando se quer chegar à outra margem. Neste sentido, os votos são tesouros escondidos em vasos de barro.

O código monástico mais tradicional é o Vinaya que integra o Tripitaka (os três cestos) – coleção das escrituras budistas. Este código contém cerca de duzentos e cinquenta votos ou preceitos, que foram sendo adicionados à medida que a comunidade monástica crescia e problemas iam se apresentando. Muitos deles são muito específicos para o momento histórico ou para aquela determinada sociedade. Antes de entrar no Parinirvana, o próprio Buda disse aos seus discípulos que algumas regras poderiam ser posteriormente modificadas ou eliminadas. Como não falou quais, havia uma certa resistência para alterá-las.

Baizhang Huaihai ou Pai Chang Huai-hai (em Japonês Hyakujō Ekai) foi responsável pela adequação das regras monásticas do Chan (Zen) chinês, visto que as condições sócias históricas requeriam certas adequações das regras do Vinaya para os monges chineses. Este monasticismo Chan incluía períodos de trabalho e agricultura, algo que tradicionalmente não era aceitável no monasticismo budista, cuja prática era a mendicância, mas que permitia às comunidades Chan serem autossuficientes. Também a partir destas regras os monges começaram a habitar um único salão para meditar, alimentarem-se e dormirem. Deste texto, vem o conhecido ditado “Um dia sem trabalho é um dia sem comida”.

Essa tradição iniciada na China, em virtude da sua ligação com outras doutrinas chinesas como o confucionismo e o taoísmo, chegou até nós no Zen contemporâneo, de maneira que a dignidade da dimensão do trabalho persiste ainda quando o monge não pode ser mantido pela comunidade e precisa de um trabalho externo para se manter. Além do próprio “samu”, o trabalho considerado uma prática legítima e necessária até mesmo em retiros.

É bom ver as mudanças sempre com uma mente desperta, numa perspectiva de lucidez, quando parecia que determinada alteração poderia ruir o sistema monástico, ela o tornou mais lúcido e preservou o Dharma. A responsabilidade sobre os seus votos é também sinal de realização espiritual, é preciso enxergá-los como condições facilitadoras e impulsionadoras do despertar.

 

O Tripitaka, os dois primeiros cestos:

 Os Sutras do Tripitaka se constituem em “3 cestos”. A tradução é essa, a palavra vem do sânscrito e tem a mesma raiz da nossa língua, por isso são tão parecidas. Então “tri” quer dizer “três”, e “tripitaka” quer dizer “3 cestos”, referindo-se a três cestos de escrituras.

O primeiro conjunto dessas escrituras são os discursos de Buda. Então são os discursos curtos, longos, de duração média, com argumentações onde nós vemos Buda agir como um professor, como um argumentador, quase um filósofo, enfrentando perguntas e argumentos contrários e os respondendo com brilhantismo. Esse é o primeiro conjunto do Tripitaka. Em alguns momentos Buda é bem severo. Há momentos em que ele diz: “Óh, homem tolo, como você vem com uma afirmação dessas? ”.

No segundo cesto nós temos o Vinaya, que é um conjunto de regras para os monges. Essas regras do Vinaya claramente foram construídas ao longo do tempo à medida que foram acontecendo incidentes. Essas regras vão indo desde as mais básicas como não roubar, até regras que foram construídas provavelmente em cima de pequenos incidentes. Por exemplo: os monges não podem atravessar uma aldeia falando em altas vozes.

Através do tempo, essas regras foram mudadas, até porque, no final de sua vida, Buda disse: “vocês podem alterar as regras de acordo com as conveniências e necessidades, desde que não mexam no espírito central que as anima”.

 

Disponível em https://opicodamontanha.blogspot.com/2018/09/o-tripitaka-os-dois-primeiros-cestos.html

 

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