Os meses passando em segundos.
Um primeiro passo precisou de coragem e confiança para entrar na correnteza e me deixar levar por esse mar.
Quando me entreguei e me permiti ser levada atravessei portais do Dharma que sequer poderia imaginar existir.
Não sei exatamente onde tudo começou. Do pouco que sei, costurei em faixas.
Costurei nomes, rostos, músicas, lágrimas, frustrações, sorrisos, abraços, palavras, olhares, vida e morte… Costurei o próprio tempo. Passado, presente e futuro entrelaçados em pequenos grãos de arroz.
Nada era mais importante. Nada mais importava.
O cheiro do incenso perfumava a casa todos os dias. As prostrações em dança silenciosa eram seguidas das recitações dos votos em sussurros hipnóticos, ecoando, se aprofundando, me levando adiante.
O tempo passou lentamente. A costura não foi fácil. As emoções se tornaram ainda mais sensíveis. Era preciso ter calma e paciência para deixar o fluxo de pensamentos e emoções irem e virem sem apego ou aversão.
Ainda assim experimentei momentos de silêncio, pertencimento e diluição. Pela manhã ouvia o som dos pássaros, o vento soprando, o respirar das árvores me contando segredos há muito tempo esquecidos. À tarde o sol iluminava o tecido, fortalecia minha determinação e sinalizava o momento de guardar a costura.
É inexprimível a transformação. Comecei costurando como Andreza, mas em algum momento já não era eu quem costurava. A Sangha costurava em mim. O rakusu não era para mim, era para os outros, era para todos. Independentemente do nome que recebesse eu já sabia que uma parte de mim deu espaço a algo novo que mudou toda minha vida e me guiaria sempre em frente.
Agradeço a generosidade de todos que me orientaram e apoiaram neste período, com seus ouvidos, palavras, abraços, áudios, fotos, mensagens, pensamentos e com sua presença.
Obrigada por serem meu refúgio e fortalecerem a minha prática. Cada um dos senhores são um ponto que sustenta o meu rakusu, assim como aqueles que vieram antes de mim e aqueles que virão depois.
Tomo refúgio no Buda.
Tomo refúgio no Dharma.
Tomo refúgio na Sangha.
Por Andressa Gyōn, DaissenJi, Soto Zen