Daissen Ji – 20 Anos: Entrevista com Monja Joren

 

Em comemoração aos 20 anos Daissen Ji, nossa comunidade zen-budista, nesta edição, tivemos a alegria de entrevistarmos a querida monja Joren.

Joren san iniciou seus passos no Budismo na Daissen, em 2014 tornou-se praticante e seguiu no Caminho ao vestir o kesa, tornando-se monja.

Ela nos conta sobre esse início junto à comunidade, nos fala sobre a significância da Daissen em sua jornada, assim como é na jornada de tantos outros praticantes, e encerra deixando-nos um lindo depoimento sobre a convivência com a sangha após todos esses anos.

 

A senhora poderia nos contar como foi o seu encontro com o Budismo, como foi seguir, iniciar esse caminho?

Monja Joren: Eu, na época, estava trabalhando em casa, e tem algumas regalias trabalhar em casa, uma delas é que eu terminei o trabalho por volta de umas três da tarde e pude ter a tarde livre para fazer outras coisas. Comecei a pesquisar alguns vídeos no Youtube e acabou que o Youtube me sugeriu um filme, “Zen, a vida de Dogen”, eu assisti esse filme e, quando acabou, fui pesquisar se tinha algo parecido dentro da cidade que eu estava morando, que era Goiânia. Então eu pesquisei se tinha zazen em Goiânia, e apareceu para mim que haveria um encontro naquela noite, naquele mesmo dia, dali a algumas poucas horas.

Eu só desliguei o computador, me arrumei, peguei minha bicicleta e fui até o encontro. Esse era o último encontro que eles estavam tendo naquele ano, isso foi em dezembro de 2014, e foi assim que eu conheci, que eu tive contato com o Budismo e uma sangha Zen, já era Daissen, eram alunos do Sensei, do Monge Genshô, e a partir daí eu iniciei a prática. Mas não foi uma busca pelo Budismo ou coisa assim, eu realmente caí de paraquedas depois de ver o filme.

 

Poderia compartilhar um pouco conosco desse sentimento de iniciante ao fazer parte da sangha, dos sesshins, os primeiros encontros com o Sensei?

Monja Joren: Esse primeiro dia, essa primeira prática que eu fui, foi o último encontro daquele ano então pediram que os praticantes que estavam ali presentes fizessem um breve depoimento de como tinha sido aquele ano para eles, de como estava sendo a prática, e eu achei curioso porque eu não conhecia ninguém, eu não conhecia praticamente nada de Zen, eu não sabia nem que tinha essa história de budismos diferentes, mas eu achei muito interessante porque eu conseguia me ver no discurso de todo mundo ali. Parecia que cada um deles narrava um pouco da minha vida também. Então foi uma sensação de, quase como se eu tivesse encontrado irmãos ali, as pessoas que estavam compartilhando um momento de vida parecido com o meu.

O impacto mesmo da prática do zazen foi tão, não sei se posso dizer, mas forte, no sentido de transformador, que desde então não houve um momento em que eu parei de praticar, em que eu me afastei da sangha. Sempre foi com essa sangha e com essa prática, que para mim foi desenvolvendo, se desenrolando.

Eu não conhecia Monge Genshô, eu só conheci aquelas pessoas aquele dia, e por alguns meses eu convivi com essas pessoas. Fui começar a ter contato com Monge Genshô via e-mail porque eu comecei a fazer transcrição de palestras dele, e trocávamos uma mensagem ou outra, mas foi, principalmente, por conta das palestras dele que eu acabei me aproximando mais dos ensinamentos dados por ele, e o primeiro retiro que eu tive oportunidade de ir foi com o Sensei Komyô, que foi até Goiânia na ocasião. Foi um sesshin, como sempre, o primeiro sesshin nos faz realmente colocar na balança se faz sentido ou não continuar aquela prática e para mim foi bem revelador no sentido de que realmente era aquela prática que eu me via fazendo a longo prazo.

Depois de praticante leiga a senhora passou a noviça, como monja, qual é o significado da Daissen nesse caminho, da praticante e da monja?

Monja Joren: Chamamos a Daissen de sangha, comunidade, mas é a nossa casa, é a nossa família, são pessoas que estão muito próximas, uma intimidade até um pouco mais reveladora que a da família de sangue mesmo. São pessoas que passaram por momentos de prática intensa juntos, então acabam desenvolvendo um tipo de relação que é um pouco diferente. E para mim essa transição na realidade não foi bem uma transição, foi só um passo atrás do outro, não teve um momento de mudança que saiu da água para o vinho. Simplesmente cada coisinha que você vai fazendo vai te arrastando e de repente quando você se dá conta você está com a cabeça raspada e vestindo um kesa. É mais ou menos por aí, a sangha mesmo que te arrasta para essas situações.

É como o Sensei diz, “ser levado pela correnteza”.

Monja Joren: Exatamente.

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Já são quase oito anos de prática, oito anos na sangha. Nesse tempo como a senhora se vê hoje dentro da Daissen, dentro da comunidade?

Monja Joren: Eu me vejo como uma parte da comunidade, uma das outras quinhentas mil gotas que existem ali dentro também. Na realidade nós somos todos muito importantes e muito desimportantes. Porque o trabalho todo é o que é o mais importante. Eu sou só uma parte.

Poderia deixar uma mensagem para os nossos leitores a respeito dos vinte anos da nossa comunidade.

Monja Joren: São vinte anos agora que a Daissen completa em 2022 e posso dizer que são vinte anos mudando vidas mesmo, no sentido de que essas pessoas todas que praticam e trabalham na comunidade fazem parte desse todo que acabamos de comentar. Todas elas foram transformadas, não pela Daissen no sentido figurativo, mas pela Daissen no sentido de família mesmo, no sentido que temos de proximidade, as pessoas que convivemos, os retiros que passamos um do lado do outro, os zazens que fazemos em conjunto seja virtualmente ou presencialmente. Eu acho que o movimento da Daissen é um movimento de transformação, mas se as pessoas estão dispostas a se deixarem transformar também, se conectar com essa parte de si mesmas.

Entrevista realizada por Débora Muccillo. Praticante na Daissen Ji. Escola Soto Zen.

Transcrição da entrevista por Estela Ikezire. Praticante na Daissen Ji. Escola Soto Zen.

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