Considera-se biodiversidade ou diversidade biológica todas as formas e tipos de vida no mundo natural e suas interações. Nesse conceito estão inseridas as plantas, os animais e os microrganismos que mantem a vida no planeta e que em toda sua riqueza são de extrema importância para a existência humana. O termo biodiversidade deve ser entendido em dois níveis diferentes, sendo o primeiro deles relacionado a todas as formas de vida, assim como os genes incluídos em cada indivíduo e em um segundo nível, as inter-relações entre as espécies, ou ecossistemas, de forma que uma espécie afeta diretamente a vida de diversas outras.
Nesse sentido, vários estudiosos, sabendo da importância da biodiversidade para a manutenção da vida humana no planeta, dedicam esforços para proteção dessa diversidade. Entre essas correntes de estudo destaca-se a biologia da conservação que é uma matéria interdisciplinar que busca recursos em diversas áreas, especialmente na área de gestão de recursos naturais, com o intuito de proteger espécies, seus habitats e ecossistemas das excessivas taxas de extinção e de erosão das interações entre os seres vivos.
Michael Soulé (1936-2020), era um biólogo americano, considerado o pai da biologia da conservação. Praticante budista, ocupou o cargo de coordenador de estudos budistas no Zen Center em Los Angeles, Califórnia. Talvez Soulé tenha encontrada diversas semelhanças entre os seus estudos científicos e os conceitos budistas. Um dos pressupostos básicos da biologia da conservação e do budismo é o conceito da interdependência. Para a biologia da conservação todas as espécies são interdependentes, interagem entre si de forma complexa no mundo natural e, assim, a perda de uma espécie leva a consequente influência sobre as demais.
Outro pressuposto da biologia da conservação é que os seres humanos também vivem integrados com as demais espécies. Para uma maior compressão desse assunto basta observarmos o seguinte cenário: se por uma catástrofe espécies de insetos polinizadores acabassem no planeta, nós e os outros animais teríamos pouca ou nenhuma chance de sobreviver, pois estes desempenham papel essencial na geração de diversos alimentos. Assim, nossa existência depende de outra existência.
Na perspectiva budista nada existe por si só. O Sutra do Coração da Grande Sabedoria diz que: “forma não é mais que vazio, vazio não é mais que forma, forma é exatamente vazio, vazio não é mais que forma”. O que é a vida no planeta se não todas as espécies nela presente? Assim como, também podemos pensar, que em cada indivíduo (forma), há todo o planeta, pois, o surgimento de nossa espécie, bem como a manutenção da mesma até os dias atuais, é decorrente da evolução de outros animais e de toda a interação entre cada organismo.
Nesse aspecto, para o Budismo, não existem identidades concretas e independentes. Todos os fenômenos são vazios de um “eu”. Assim descreve Peter Harvey, no livro A Tradição do Budismo, páginas 144 e 145, sobre o Sutra do Coração da Grande Sabedoria. “A literatura da Perfeição da Sabedoria afirma que um Dharma (e também uma “coisa” comum) não é um fato derradeiro por legítimo direito, porque não pode ser nada por “si mesmo”; seu surgimento e sua própria natureza dependem de outros Dharmas, os quais, por sua vez, dependem de outros etc.”.
Resta claro, assim, a similaridade entre os ensinamentos budistas e o que se sabe na ciência até o momento sobre a inter-relação entre as diversas espécies do planeta. A sabedoria e o conhecimento sobre como dependemos um do outro é um caminho que nos convida para compreendermos a nossa imensa responsabilidade perante a qualidade da continuidade da nossa espécie nesse planeta e dos outros seres. Por fim, destaca-se o seguinte pressuposto da biologia da conservação, que na linguagem científica nos convida para uma ação mais compassiva e integrada com a natureza: “Toda espécie tem o direito de existir, pois são frutos de uma história evolutiva e são adaptadas”. Seja na perspectiva budista, seja na científica, que possamos avaliar nossas atitudes em busca de uma existência mais harmônica e consciente com todos os seres, mantendo nossa rica biodiversidade.
Texto de Liana Oliveira Lopes Borges, auditora Fiscal do Meio Ambiente. Praticante na Daissen Ji. Escola Soto Zen.
Referências:
https://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/questoes_ambientais/biodiversidade
https://oeco.org.br/dicionario-ambiental/28367-o-que-e-a-biologia-da-conservacao/
Harvey, Peter. A Tradição do Budismo. História, Filosofia, Ensinamentos e Práticas.