Mente Espelho

 

Talvez a coisa mais difícil de realizar nesta vida seja perceber que aquilo que você chama de si mesmo é apenas abstração da sua própria mente. Quando praticamos a meditação vazia temos a oportunidade de observar a nossa própria mente em funcionamento e pensamos, isto está pensando. Conseguimos nos dissociar do nosso próprio pensamento, nos percebemos testemunhas dos pensamentos em nós mesmos. No entanto, ainda há um truque aqui, um truque da mente. Tudo o que você quiser saber sobre quem está pensando é apenas mais e mais pensamento, você não vai encontrar nada mais que ideias sobre si mesmo. Pensamento pensando pensamento. Aquilo que observa os pensamentos também é o resultado de pensamentos enquanto houver alguém observando pensamentos. Enquanto houver essa dualidade, eu e o outro, eu e o mundo, é apenas uma cadeia de pensamentos autorreferentes.

Liberar-se da ideia que pensa pensamentos (um eu, a testemunha) é encontrar a mente-espelho que é nada mais nada menos que penetrar o modo de perceber as coisas além das próprias coisas, ou seja, sem pensamentos, e viver assim. Você não é nada, todas as coisas são você. Por isso ao praticarmos o zazen shikantaza estamos nos dispensando, finalmente, de termos uma ideia definida sobre nós mesmos. Assim a consciência se expande em uníssono com o universo e nós somos essa consciência sempre em expansão, sempre em desapego, sempre se abrindo. Toda consciência é um obstáculo e um convite para ir além dela, não o contrário.

Pensamentos passados pensando novos pensamentos, apenas isso. Entretanto você deixa ir os objetos mentais e fazendo isso deixa-se ir junto, caso contrário, haverá sempre um obstáculo impalpável. Na meditação você apenas se dissocia de qualquer coisa que surgir em seu corpo, se dissocia de pensamentos e emoções (isso é natural). É apenas um corpo na natureza, uma partícula do universo. Assim a consciência se purifica, torna-se cristalina como um espelho brilhante e transparente e se percebe vazia e única com todo o cosmos. Assim você começa a desfrutar da consciência de todas as coisas, a sua verdadeira natureza.

 

Texto de Monge Seigen Sensei. Sangha Kyozen. Escola Soto Zen.

 

 

 

 

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