A Mente, mente

 

Monja Coen Roshi diz em uma palestra, citando Buddha, que “a mente humana pode ser mais perigosa do que cobras venenosas e assaltantes vingadores”. Bastante assustador, não é mesmo?

Metáforas a parte, nossa mente pode ser um fenômeno realmente maravilhoso, talvez sem as capacidades cognitivas que possuímos, dificilmente a humanidade teria conquistado tantas coisas. Avanços tecnológicos, filosóficos e científicos são todos possíveis pois possuímos mecanismos que outros animais não possuem, principalmente quando compreendemos que linguagem e cognição são fenômenos indissociáveis.

No meio de tantos avanços da humanidade, ainda temos que lidar com grandes problemas como miséria, fome e pobreza. Além dos problemas sociais, também lidamos com problemas de ordem mental. Hoje vivemos verdadeiras epidemias de depressão, ansiedade e comportamento de autolesão. Isso significa que a mesma mente que pode nos levar tão longe, também pode ser o nosso próprio algoz.

Se pararmos para pensar, a mente é uma grande fábrica de ilusões. Isso acontece principalmente pela grande capacidade discriminativa do ser humano. O humano primitivo precisava caçar, procurar abrigo e lutar pela sua sobrevivência. Dessa maneira, aqueles humanos com capacidade discriminativa mais apurada mostraram maior capacidade de se adaptar ao contexto em que viviam.

Foi assim, de maneira bem resumida, que desenvolvemos a mente discriminativa, aquela que quer isso, mas não quer aquilo. Nesse sentido, podemos cair em várias armadilhas. Isso tudo se complica, pois agimos em relação aos nossos pensamentos como se fossem o fenômeno em si, e essa é uma ilusão comum a praticamente todas as pessoas.

É por esse motivo que a prática de zazen é tão eficaz em provocar nossa mente a abandonar as incontáveis ilusões que contamos a nós mesmos. Quando estamos sentados começamos a descartar pensamento por pensamento, até cansar a nossa mente. Isso ocorre de maneira muito sutil, e é por esse motivo também que é muito comum ouvir de professores zen que não devemos dar nossa opinião. Em muitos momentos, nossa mente nos dá opiniões que nos levam a resultados horríveis para nós mesmos. E isso tem uma grande influência no adoecimento mental.

Aprender a descartar essas ilusões é uma grande virtude. Nossa mente pode ser como um espelho sujo, com várias distorções e ruídos quando olhamos para o mundo fora de nós e isso causa sofrimento psíquico intenso. Fazemos zazen para limpar esse espelho e ver as coisas como elas realmente são, conseguir ver a perfeição mesmo nas coisas imperfeitas.

 

Texto de Renato Oliveira, psicólogo e terapeuta clínico. Praticante na Daissen Ji. Escola Soto Zen.

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