“Wabi-sabi é a beleza das coisas imperfeitas, impermanentes e incompletas, a antítese da nossa noção ocidental clássica de beleza como algo perfeito, duradouro e monumental. ”
Leonard Koren
Vivemos em um mundo que busca a perfeição. A todo momento somos bombardeados por realidades fabricadas, cenários incrivelmente planejados, pessoas sempre felizes vivendo uma vida quase artificia. Mas qual seria o real significado dessa busca incessante e sem sentido por algo que sabemos que não existe? Porque nos agarramos à necessidade de sempre viver rodeados de coisas intactas, peles perfeitas, eterna juventude, objetos novos? Talvez nossa cultura ocidental tenha nos ensinado isso desde sempre, desde nossos primórdios como sociedade.
Quando olhamos para o Oriente, nos deparamos com culturas muito diferentes da nossa. Apesar de o mundo conectado e sem fronteiras estar levando o homem a se tornar cada vez mais parecido uns com os outros, no Japão existe um conceito que vai contra toda essa “plasticidade” em que mergulhamos nossas vidas, um conceito que todo japonês, intuitivamente conhece: o Wabi-sabi. Embora a cultura japonesa tenha uma filosofia e um sistema de valores refletidos no Wabi-sabi, cada um pode interpretá-lo de maneira diferente.
Wabi-sabi é frequentemente expresso ou escrito como uma combinação das duas palavras, no entanto, para compreender o conceito, é necessário conhecê-las separadamente.
O termo Wabi surgiu no início do século XV para designar uma nova sensibilidade estética, intimamente relacionada com a cerimónia do chá, um conceito que se referia ao ambiente geral e aos objetos utilizados, à estética elaboradamente simples do Chanoyu. A definição de Wabi remonta à solidão, à melancolia, uma conotação de tristeza por um desejo não realizado. Foi no século XVI que seu significado evoluiu para o que poderíamos chamar de “aceitação” ao que não deu certo. Wabi passou a significar a busca espiritual de descobrir e desfrutar da beleza da simplicidade, da imperfeição e da efemeridade.
O termo Sabi poderia ser explicado como sendo a capacidade de descobrir a beleza em algo que se deteriorou ou envelheceu com o tempo. Sentimos que o objeto possui uma história, uma vida que se reflete em sua aparência atual e que o faz único em sua existência.
Wabi-sabi é portanto, a visão ou pensamento de encontrar beleza em todos os aspectos da imperfeição da natureza. Trata-se da estética das coisas existentes em seu estado natural, das coisas que são “imperfeitas, impermanentes e incompletas”. Um conceito profundamente influenciado pelos ensinamentos de Buda, interligado com o pensamento budista. É essencialmente um conceito ou ideologia que vem do ensinamento budista das três marcas da existência: “impermanência” (Anicca), insatisfatoriedade (Dukkha) e vazio ou não eu (Anatta) ”. Todas as coisas do Universo são impermanentes, cíclicas e vazias de um Eu e se conseguirmos parar para refletir sobre isso, enxergaremos o esplendor do ciclo constante da vida em cada detalhe.
Wabi-sabi é uma boa maneira de nos ensinar a entender a natureza em sua plenitude e enxergar as maravilhas presentes em qualquer substância ou ser em sua forma mais natural e crua. Se olharmos profundamente para as paisagens, os objetos que nos cercam, os relacionamentos que temos e também para nós, seres humanos, a ideia de Wabi-sabi pode ser entendida como a apreciação de uma beleza que está fadada ao desaparecimento, ou mesmo uma contemplação efêmera de algo que se torna mais belo à medida que envelhece, desbota, fenece, morre, se transforma e consequentemente, adquire um novo encanto.
Para os japoneses, Wabi-sabi é um sentimento, mais do que um conceito.
Texto de Ana Maria Rangel. Praticante na Daissen Ji. Escola Soto Zen.
Fontes:
japanobjects.com
nakamotoforestry.com
omaritani.com
kyoto–ryokan–sakura.com
japandaily.jp
berlinartlink.com