Três Joias – Os Caminhos do Buda no Brasil

 

Sou monge da tradição budista japonesa Jodo Shinshu Hongwanji-ha e desde que me mudei para o Brasil em 2002, “viver como um monge budista no Brasil”, “viver como missionário budista”, trouxe-me muitos questionamentos. Nessa caminhada, tenho encontrado budistas de diferentes escolas, mestres e leigos e emocionantes trabalhos pioneiros inovadores. Nasce então o filme Três Joias como um projeto para registrar a implantação do Budismo no Brasil, abraçando dois desafios: “registrar a espiritualidade no formato de audiovisual, sendo entretenimento como um filme” e “revelar a riqueza da espiritualidade como uma obra de arte, e capturar o Budismo para além do conceito de religião”. Um filme que oferece a experiência do despertar!

Três Joias é uma série documental apresentando os três tesouros do budismo – Buda, Dharma e Sangha. O filme teve estreia no Brasil no final de 2018, depois no Japão e nos Estados Unidos. E atualmente está disponível no Amazon Prime Video.

O Budismo sempre foi grande inspiração de obras de arte em todo o Oriente. A transmissão dos ensinamentos budistas no Ocidente intensificou-se no século 20. O cinema é uma arte que também teve um grande desenvolvimento no século 20. O audiovisual pode se tornar um gênero importante na arte budista? Tratar espiritualidade e religião nos tempos contemporâneos, transformá-lo em arte através de filme, dirigido não só para os simpatizantes do budismo, mas também para pessoas de outras religiões e até para quem não tem interesse por religião pareceu-me uma abordagem desafiadora.

Depois de 4 anos de gestação, a série é o resultado de um extenso trabalho de pesquisa e filmagem que nos leva a uma verdadeira jornada espiritual por templos, por centros de estudos e prática e por comunidades das principais tradições budistas presentes no país. Nos episódios são apresentadas conversas sobre ensinamentos e percepções do desenvolvimento do budismo no Brasil, com alguns dos importantes mestres brasileiros contemporâneos, monges e lamas, bem como praticantes, professores e estudiosos budistas.

A estrutura dos três episódios Buda, Dharma e Sangha ajudou a capturar o Budismo na totalidade. Prestei atenção no despertar (Buda) de cada monge, no poder dos ensinamentos (Dharma) que transformam as pessoas e nas virtudes da comunidade (Sangha) que sustenta o cultivo da espiritualidade, reconhecendo o papel de cada um: professor, ensinamento e grupos religiosos. E tratar o Budismo Tibetano, o Zen e o Jodo Shinshu neste formato possibilitou destacar as diferenças e as semelhanças que transcendem as escolas, mostrando que universalidade e diversidade são compatíveis no budismo.

Como a meta foi fazer um filme para o público geral, houve o cuidado de utilizar palavras e expressões que possam ser compreendidas também por não budistas. Isso levou a obra para uma expressão budista mais aberta. Espero que seja um bom recurso para aqueles que desejam aprender mais sobre o caminho da compaixão e da sabedoria, em uma apresentação clara e acessível para iniciantes e estudantes experientes. Também tenho recebido vários comentários de fora do Brasil, de pessoas que se emocionam com as expressões atrativas e pouco convencionais dos personagens.

A história do Budismo no Brasil, que gira em torno de 100 anos, relativamente curta, faz-me sentir a energia associada com a juventude. No processo de aceitação do Budismo neste país, o “Oriente” tem sido assimilado pelo “Ocidente” dinamicamente. Haverá aqueles que acham ultrapassado dizer coisas como “encontro do Ocidente com o Oriente”, mas sinto que esse encontro tem se aprofundado com desafios atuais, em que as religiões dialogam cada vez mais com civilizações contemporâneas.

O que é Budismo? O que significa transmitir o Budismo? O que o encontro com os ensinamentos do Buda acende no coração das pessoas? E que tipo de mudanças esse encontro provoca? Acredito que, como uma obra cinematográfica, Três Joias foi capaz de dar uma resposta concreta sobre a história do budismo no Brasil, mostrando como pessoas têm incorporado os ensinamentos do Buda na vida cotidiana. E como sentem, com todos os seus sentidos, o brilho do budismo que cresce na sociedade multicultural do século 21.

 

Texto de Kentaro Sugao. Diretor de Três Joias. Monge da tradição budista japonesa Jodo Shinshu Hongwanji-ha.

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