Obra do Zendô em João Pessoa

 

Início da Comunidade

A Comunidade Daissen em João Pessoa surgiu em maio de 2017, quando um grupo de pessoas interessadas começou um grupo num aplicativo de comunicação. Logo encontraram apoio na Daissen para formarem um grupo de estudos sobre zen-budismo sob a orientação do monge Genshô. Após poucos meses de práticas, o grupo pode promover uma palestra do seu orientador que estaria para visitar seus familiares na cidade, que na ocasião, concedeu ao grupo ser oficialmente reconhecido na Daissen.

O grupo se reunia no espaço que foi carinhosa e generosamente cedido pela praticante Lirismar Galvão nos fundos da sua casa, localizada no Bairro dos Bancários. Lá, aconteciam as práticas, estudos, encontros e confraternizações, acolhendo praticantes e visitantes. O grupo também conseguiu organizar retiros com a presença do monge Genshô, por meio do trabalho conjunto dos voluntários e praticantes.

Zazen no primeiro local no Bairro dos Bancários

 

A partir do jukai de um de seus praticantes, que se tornou coordenador, o grupo passou a ser considerado Centro de Prática na estrutura da Daissen e começou a sonhar com um espaço próprio, onde pudesse oferecer mais horários de prática e treinamentos. Com essa aspiração, os praticantes começaram a pesquisar a possibilidade de conseguir a doação de um imóvel para concretização deste sonho. Foram sondadas muitas pessoas com boas condições financeiras, empresas e até a possibilidade de uma doação pública para conseguir esse imóvel, mas essas tentativas não foram bem-sucedidas.

Ainda movidos pela aspiração de ter seu próprio espaço zen na cidade, os praticantes continuaram pesquisando, até que encontraram uma casa no Bairro de Jaguaribe, próxima ao centro histórico da Capital. O valor de compra do imóvel estava bastante atraente e permitia que um dos praticantes pudesse adquirir a casa. Assim, em dezembro de 2018 começaram as negociações e já em janeiro de 2019, o Centro Zen de João Pessoa teve uma casa para suas práticas. No dia 26 de janeiro de 2019, aniversário do mestre Dogen Zenji também foi fundado o Instituto Zen-Budista Daissen Ji da Paraíba, com o objetivo de oficializar a sangha como pessoa jurídica.

A casa assim que foi adquirida

 

No retiro de Carnaval de 2019, em Florianópolis, foi ordenado o primeiro monge, conferindo ao grupo o status de Comunidade. Com o retorno do novo monge à cidade, já começaram os trabalhos na casa, com uma limpeza e a primeira meditação em março do mesmo ano.

 

A reforma

Em março de 2019, a casa precisava de alguns reparos emergenciais, no teto principalmente para evitar infiltrações maiores já que se aproximavam os meses chuvosos. Os praticantes continuaram frequentando o espaço nos Bancários até que o novo local tivesse condições de acolher as práticas. Enquanto isso, a coordenação começou a buscar os meios para regularizar junto aos órgãos públicos a situação da casa como destinado às práticas religiosas. Uma das exigências era uma reforma para adequar o local conforme o que a legislação considera espaço religioso e por causa desta exigência a reforma que seria deixada, talvez para um futuro distante, precisou ser antecipada.

Zendô no meio da obra

 

A falta de recursos financeiros levou a coordenação a buscar alternativas para até mesmo ter um projeto de reforma. Praticantes, arquitetos que são voluntários da Comunidade Daissen no Brasil e de uma arquiteta amiga se ofereceram para ajudar, mas a burocracia de registrá-los nos órgãos locais já que residiam e atuavam em outras cidades, deixavam essa opção bastante complicada. Foi então que, através da sugestão dessa arquiteta amiga, que procuramos o projeto Trama, do curso de arquitetura da Universidade Federal da Paraíba, por meio da professora Amélia Panet e seus alunos, que aceitaram o desafio e prontamente começaram a fazer as medições do imóvel.

Voluntários na obra


O projeto

No desenvolvimento do projeto, após as reuniões com o grupo de arquitetura Trama, a arquiteta propôs já deixar o local com o perfil definitivo de um zendô internacional, com estrutura para oferecer a meditação, as cerimônias e as demais atividades que a Comunidade pudesse dispor. Assim, o prédio contará com: a) uma recepção/lojinha para acolher as pessoas que chegam e para oferecer itens de prática budista aos interessados; b) um local para retirar os calçados e deixar os pertences; c) o salão principal com altar e a estátua de Buda para a meditação e demais cerimônias; d) jardim interno para facilitar a circulação de ar e iluminação natural; e) sala multifuncional (altar de KannonBodhisattva da Compaixão) anexa ao salão principal; f) banheiro unissex com acessibilidade; g) um quarto para estudos, práticas com grupos pequenos, etc.; h) cozinha; i) ambiente externo para atividades diversas; j) alojamento.

O projeto sendo desenvolvido pela Equipe do Trama

 

O imóvel está localizado numa zona de proteção histórica, uma das áreas nobres da cidade no passado, com seus casarões Art nouveau e Art Déco das famílias bem-sucedidas da época do apogeu das Usinas de cana-de-açúcar. Por isso, primeiramente era necessária uma avaliação do Instituto do Patrimônio Histórico do Estado da Paraíba (IPHAEP), apesar da casa não ser tombada, a obra teria algumas restrições estéticas e estruturais para não destoar do conjunto urbanístico. Enquanto se aguardava essa análise, os estudantes traçavam a planta do imóvel atual.

Este primeiro esboço do projeto foi entregue no final de 2019, após muito estudo e reflexões. Nesse meio tempo, infelizmente aconteceram alguns imprevistos como arrombamentos e vandalização do imóvel, sendo necessária intervenção policial após vários prejuízos financeiros e materiais. O investimento em segurança, teve que ser de emergência para garantir o início das obras e mesmo a possibilidade de alguma prática no local, graças às generosas doações de uma praticante anônima do México.

Pôr-do-sol no portão do zendô

 

Ao longo da execução do projeto, algumas adaptações foram sendo inseridas, principalmente por questões de segurança do local, como a instalação de cerca elétrica e câmeras de monitoramento, além de outras medidas que deixaram o ambiente menos vulnerável. Também à medida que se faziam práticas enquanto a reforma está em andamento, foi se percebendo que algumas melhorias poderiam tornar mais agradável o ambiente. Assim, o projeto também foi acontecendo com a contribuição e a utilização da comunidade.

Em março de 2020, as práticas presenciais foram suspensas em toda comunidade Daissen, ninguém podia prever quanto tempo poderia durar essa suspensão. Desta forma, assim que a construção civil foi liberada para retornar ao trabalho, as obras de reforma foram iniciadas, com a intenção de concluir pelo menos a parte estrutural até o retorno das atividades presenciais.

 

As campanhas

Com a pandemia também a inflação subiu muito no setor de construção civil, com poucos recursos, e com uma obra desta dimensão, a Comunidade buscou doações junto a construtoras e lojas de material de construção, mas não teve nenhum retorno e nem descontos. Em razão disso, começou a promover campanhas para ajudar na obra, aceitando de material de construção avulso, as sobras de materiais de outras obras, cada singela doação, aos poucos fazia a reforma avançar com muita paciência e persistência.

A Comunidade desde o início acredita que é importante contribuir com seu próprio suor e trabalho, assim, cada voluntário conforme sua habilidade e disponibilidade dedicava um pouco do seu tempo a ajudar na reforma. Muitos foram aprendendo a fazer ali mesmo quando o trabalho exigia e não tínhamos dinheiro para pagar mão-de-obra especializada, alguns finais de semana tinham mutirões para praticar zazen (meditação zen) e samu (trabalho coletivo consciente). Por exemplo, após um arrombamento que levou todo material elétrico que tinha sido comprado, o dinheiro reservado para o eletricista teve que ser usado para adquirir novamente esse material, aí os próprios voluntários com a consultoria de amigos tiveram que fazer a instalação elétrica inteiramente.

Ainda assim, esse esforço dos voluntários era insuficiente para cobrir as despesas que aumentavam cada vez mais toda semana (inflação) e as campanhas via redes sociais tiveram um papel muito importante na arrecadação de recursos em dinheiro e em material de construção. Leigos, monges (até de outras escolas budistas), outras sanghas budistas, numa atitude muito bonita, empenharam-se em fazer doações. Nosso mestre monge Genshô também concedeu recursos da Daissen e direcionou doações de seus amigos para ajudarem a obra na Capital paraibana. Pessoas de diversos lugares do Brasil e de fora do país se sensibilizaram e praticaram a generosidade de forma emocionante. Uma praticante de outro Estado do Brasil teve a ideia de catar latinhas e vender para ajudar na obra, um exemplo de generosidade, criatividade e responsabilidade ambiental.

As campanhas nos ensinaram que um local de prática budista é um lugar de harmonia que é para o benefício de todos os seres, e essa intenção pura, de uma mente de Bodhisattva contagia e mobiliza as pessoas de todos os lugares que cultivam essa intenção. Abrir-se para receber, ser humilde para pedir, doar e aceitar, para que as três rodas (quem oferece, quem recebe e a própria doação) estejam vazias de “eu”. O símbolo da Comunidade Daissen é uma gota dourada, e cada pequena gotinha é o oceano inteiro na dimensão da generosidade.

A artista visual Nadja Andrade nos doou três quadros para que a venda fosse revertida para a pintura do local. Logo em seguida, o artista Álvaro Jardel de Oliveira também nos doou um conjunto de oito fotografias que foram realizadas após seu zazen durante oito dias até a data que comemoramos o nascimento de Buda Shakyamuni em 2021. O recém ordenado monge Chimon da nossa comunidade tinha realizado uma série de fotografias no período da sua ordenação em Florianópolis e também nos doou essa seleção de fotos. Tínhamos agora uma coleção de vinte e uma (21) fotografias que poderiam ser revertidas em recursos para a pintura do zendô. Como existia a possibilidade do retorno presencial em janeiro de 2022, surgiu a ideia de organizar uma exposição fotográfica que recebeu o nome de Zen. O artista Álvaro Jardel assumiu a iniciativa de organizar a exposição como curador para que no dia da iluminação de Buda (oito de dezembro), pudéssemos inaugurar a exposição e também o zendô civilmente.

Momento da instrução de respiração consciente na Exposição Zen

 

Recebemos no início do ano a doação de um conjunto de joias em ouro para promovermos uma rifa em prol do pagamento do forro de gesso e da pintura do prédio. A campanha com a rifa começou em setembro de 2021 e teve seu sorteio no final da exposição fotográfica. Conseguimos a contribuição de pessoas de várias religiões e cidades do Brasil e da América Latina.

 

O sonho

A aspiração da Comunidade Daissen em João Pessoa, é que o zendô se torne, um dia, um templo oficialmente reconhecido pela Escola Soto Zen no Norte/Nordeste do país e possa servir para o benefício de todos os seres, acolhendo amorosamente todas as pessoas que se interessem pelos ensinamentos de Buda como é a missão da Daissen. É um sonho que contagia todas as pessoas que se mobilizaram com o coração cheio de generosidade e acreditam nos ensinamentos do Buda.

As vigas estruturais sustentadas pelas oito colunas do salão principal

 

Na ocasião de conclusão da parte estrutural da reforma, quando as oito colunas foram concluídas (para respeitar a ortogonalidade, lembrando o caminho óctuplo e também o número dos Budas, Bodhisattvas e Arhats), foi justamente o período no qual, o futuro monge Chimon e a praticante Paula Fracinete estavam concluindo a tradução do Surangama Sutra, nesse texto se relata como um local de prática deve ser edificado. Inspirados nesta descrição, e sabendo que os antigos locais sagrados do Budismo e os templos do Chan chinês foram fundados seguindo essas recomendações, buscamos seguir, segundo nossas possibilidades algumas dessas recomendações, fazendo ofertas (incenso em pó, água pura da chuva, velas, flores, etc.) dispostas em mandala e recitando o Surangama mantra por todo o espaço conforme a tradição antiga durante cem (100) dias consecutivos desde o primeiro dia do ano de 2021. Assim, dedicamos o espaço de prática com ofertas, sutras e mantras nas dez direções conforme as instruções deste Sutra.  O altar principal está voltado para o Norte e as imagens olharão para o Sul, onde fica sua entrada principal e seu portal guardado por um par de Komainu (Cão-leão protetor do Dharma).

Texto do Surangama mantra que foi recitado por 100 dias

 

As recitações e dedicações foram acompanhadas por alguns praticantes em suas casas durante esses cem dias ininterruptos por causa da pandemia. As recitações presenciais dentro da obra foi um momento muito bonito, de oferecimento e entrega deste espaço para sua finalidade. Além da proclamação da tradução do mantra em português, diariamente era reproduzida a recitação em sânscrito que estava disponível pela internet. No novo lugar de prática do Dharma, ecoavam as palavras muito antigas que dedicaram os principais locais sagrados do budismo no mundo, de remotos templos no Oriente.

As obras continuam, uma comunidade é uma construção contínua, aos poucos e exercitando a paciência, o espaço vai tomando forma, com a cooperação de muitas pessoas anônimas, que muitas vezes nem são budistas, mas acreditam no benefício que esse singelo espaço trará. Se tudo é um sonho e somos criaturas de sonhos aprendendo ensinamentos de sonhos, então sonhamos com esse lugar de harmonia, mais do que um prédio físico, um espaço para acolher todos os seres segundo e seguindo os ensinamentos de Buda.

 

Texto de monge Tashin, cujo empenho e determinação ajudaram a construir o Templo em João Pessoa. Monge na Daissen Ji. Escola Soto Zen.

Para colaborar com a construção desse lindo sonho, seguem abaixo os canais para doação:

 

Transferência:

Banco Gerencianet: 364

Agência: 0001

Conta: 270400-5

 

Picpay: @zenjoaopessoa

Pix: joaopessoa#daissen.org.br

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