Matsuo Bashō – O Mestre Errante do Haikai

Matsuo Bashō, de primeiro nome Matsuo Chūemon Munefusa, nasceu no ano de 1644, perto de Kyoto, no Japão. E morreu como um reconhecido mestre da arte poética do haikai, enquanto fazia uma das suas viagens pelo seu país. Os poemas curtos e sucintos de Bashō, cuja sutilidade profunda é reconhecida pelos seus leitores, movimentam as emoções e estimulam a percepção da vida através do Dharma em sua miríade de formas.

Bashō, seu pseudônimo poético (haigō) principal, é o nome de uma planta semelhante à que conhecemos como bananeira. A origem do apelido vem da cabana onde morava em Fukagawa, região periférica de Edo, hoje conhecida como Tóquio. Nela, Matsuo havia plantado uma bananeira, cuja marcante presença fez com que seus visitantes apelidassem o local de Bashõ-an, a cabana de bashō. Depois de um tempo, o poeta acabou usando o nome como seu haigō  definitivo.

Sua vida é alvo de certa especulação e incerteza; fora das cinco obras às quais temos acesso, não gozamos de muita informação suplementar, ou concreta, acerca dos detalhes. Sabemos que sua família era de samurais de baixo escalão, que lavravam a terra para o sustento, e que Matsuo, interessado desde jovem pela prática do haikai, mantinha uma amizade estreita com outro poeta, Tōdō Yoshitada, filho do senhor feudal da região. Depois que seu amigo morreu, a história de Bashō se envolve em algum mistério, abrindo-a para a criatividade de várias investidas bibliográficas, como a de Paulo Leminski, poeta brasileiro que admirava profundamente Matsuo.

 

No mais, a própria obra do mestre, junto com os excertos que temos sobre sua vida, pintam um quadro aberto para a interpretação subjetiva de cada leitor sobre quem foi e como foi Bashō. Sua figura como poeta errante, que viajou pelo Japão em busca de inspiração para sua poesia, como em um sustentado kinhin (a meditação andando do Zen Budismo), é consolidada em sua obra mais notável, “Oku no Hosomichi”, traduzida Trilhas de Oku. As traduções de suas obras são muitas, mas a edição que usamos é a de Assírio & Alvim, na publicação portuguesa “Matsuô Bashō – O eremita viajante”. A ideia é apresentar ao leitor alguns dos haikais de Bashō, recomendando e estimulando a leitura de sua arte.

Para este artigo, aproveitando a tendência do poeta a destacá-las, apresentaremos um haikai para cada estação do ano, selecionados por Hélio Jinke, monge zen budista e apreciador do poeta.


Verão

Rebento de bambu —

Uma gota de orvalho

Desce pelos nós

Outono

Há estrelas nos meus olhos

Que desejam ver as flores

Das cerejeiras curvadas

Inverno

Não podendo sair

Encosto-me à árvore

Que segura o telhado

Primavera

Sopram as brisas primaveris

Para que as flores rebentem

Em gargalhadas

O interessante sobre o estilo de haikai, ou haiku, como conhecemos hoje, é que ele é uma evolução, ou uma ramificação, do poema japonês clássico waka, e inicialmente chamava-se haikai no renga, que era uma sucessão de waka composto de várias estrofes por vários poetas diferentes, constituindo um ”rolo” final de 36 estrofes. Todos esses rolos possuem uma estrofe inicial, chamada hokku, que com o tempo se tornou independente, formando o haikai moderno.

Ainda hoje, comunidades zen budistas têm a prática de compor versos de haikai comunitários, semelhantes ao haikai no renga, com um praticante completando os versos do anterior. Curiosamente, Bashō disse que é neste tipo de poesia em grupo em que se destacava e não na prática do hokku, onde reconhecia ser apenas tão capaz quanto seus colegas e aprendizes.

 

Texto de Matheus Coutinho. Praticante na Daissen Ji. Escola Soto.

 

Referências:

“TRILHAS LONGíNQUAS DE OKU”, Meiko Shimon

“Matsuo Bashō – O eremita viajante”, Assírio & Alvim

“Matsuo Bashō”, Wikipédia anglófona

Primeira imagem, Retrato de Bashō por Hokusai, domínio público

Segunda imagem, “Eremitério de Bashō” de Hiroshige, domínio público

Terceira imagem, de “Tsukioka Yoshitoshi”, domínio público

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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