Festas de Final de Ano em Monastérios Asiáticos

Texto da série Memórias de um Casal de Peregrinos

 

Hoje, um corre-corre especial que desperta a minha curiosidade. Um quê de euforia desproporcional, para aquela data que é por eles chamada de lazy day (“dia da preguiça”, em inglês). As refeições formais são deixadas de lado. Não precisamos mais esperar o sino para a primeira garfada – melhor dizendo, colherada, já que no sudeste asiático colher é o talher principal, não o garfo, facas são raras – e nem o sino para nos servirmos de mais comida e conversarmos, se quisermos, com quem estiver sentado ao nosso lado – tocado uns 20 minutos após o primeiro sino. Chego até a escutar risada entre os monges, que são sempre tão discretos, embora tão jovens. Carregam o sorriso de sempre, mas também, objetos de decoração, flores, panelas, e circulam mais desordenadamente do que nunca. O olhar compassivo de uma menina-monja – que consegue ser uns 5 cm mais baixa do que os meus 1,56 cm – cruza com o meu de lay-friend[1] curiosa. Ela para abruptamente e comenta que já estavam iniciando os preparativos para o ano novo que seria em poucas semanas. Corro para contar para o Thomás, já que no lazy-day a gente pode ficar junto, conversando e lendo.

Ele já vem em minha direção falar que havíamos sido convidados para passar o final do ano com os monges. Minha empolgação se vai quase tão rapidamente quanto chegara, uma vez que, preventivamente, já havíamos comprado todas as passagens e reservado todos os hotéis para as próximas 4 semanas; deixaríamos aquele monastério Zen em poucos dias.

As festas e rituais são sempre muito peculiares e, por isso, desnudam o que há de mais inexplicável nas diferentes culturas. 12 horas de carro para chegar ao litoral de Búzios, em um trajeto que era para levar somente um quarto desse tempo, ou um mar branco de milhões de pessoas desconhecidas na areia da praia do mar quase negro servindo de espelho para uma chuva de fogos, talvez não pareçam comemorações muito coerentes para aqueles que, fazendo uma prece, vão para a rua acender um losango de papel que sobe ao céu pela força do ar quente. Ter que recusar o convite de passar a virada de ano em um monastério Zen na Tailândia passava a ser, para mim, um ponto negativo em nossa peregrinação.

Agora, no monastério Theravada, àquela altura, não pensava mais no que não havia vivido. Estava extremamente feliz de me ter sido dada a chance de meditar por horas e horas noite adentro. Não havia decoração especial, comida diferente, nada de sorrisos, mas era ano novo. Por tradição pessoal, resolvi deixar as minhas roupas mais brancas do que em qualquer outro dia daquelas últimas semanas. Por tradição cultural, resolvi pensar em uma lista de resoluções para o ano que se iniciaria. Temos a terrível mania de fazer ciclos. Contamos horas, dias, meses, baseamo-nos em luas, em sóis, em marés. Inventamos, na realidade aparente, medidas, que muitas vezes, nos afastam da ideia de continuidade. Me lembro, agora, de um diálogo que li recentemente:

Perguntaram ao mestre Zhaozhou Congshen[2]: “Como usar a mente durante as doze horas?”. O mestre disse: “Você é levado pelas doze horas. Eu? Eu sei conduzir as doze horas. De que horas você está falando? ” [3]

Uns 6 anos depois, nessas viradas de calendário, estaríamos com minha sogra em um templo no norte da Tailândia, enrolando barbante[4] em nossas cabeças que se estenderiam às cabeças de outros desconhecidos, formando uma teia rizomática que enveloparia o templo todo ao som dos sutras em pali entoados como cânticos que, à altura, já nos eram tão conhecidos quanto “adeus ano velho e feliz ano novo”. Aquele emaranhado de fios, para mim, eram as gotas do mar, que ali, todos juntos, mostravam-nos que éramos o mesmo oceano.

De volta àquela manhã de pós-vigília no monastério Theravada, penso em quais medidas, na realidade aparente, eu poderia tornar em resolução para me lembrar de tudo aquilo que eu experienciava e que me trazia indícios de uma vida mais desperta. Algo para me lembrar de que, ao mesmo tempo em que é possível dizer que se entra e se sai de um mar, ainda que um modifique o outro, o homem, o mar, a onda, a gota, a alga, o robalo, o facão, o sangue, o gelo, o sushi, e o isopor, tudo é a mesma coisa; mesmo se tivermos, ainda, que usar a palavra coisa. E com esse propósito, levanto-me, na mesma hora em que todos os outros dias, embora aquele fosse o primeiro dia de um novo ano. A minha resolução era que toda manhã seria o início do último dia de um único ano, enquanto fosse eu aquela onda kármica.

Organizávamos os pratos de arroz para que cada monge recebesse sua porção da manhã. Ajoelhávamos de maneira enfileirada, indicando aos monásticos o caminho a ser percorrido para o alms round[5]. Eu já deixava o arroz separado em montinhos de acordo com número de monges que, ao longe, avistava. No café da manhã, o cântico em pali de reconhecimento pelas nossas ofertas e de aprovação para que alcançássemos méritos anunciava a partida dos monges aos seus kutis. Do momento em que as panelas saíam da cozinha – que ficava a uns 300 metros do refeitório – até a hora em que terminávamos a oferta de comida aos monges e iríamos, efetivamente, comer, o caldo de legumes não era capaz de aquecer o arroz do nosso prato. O que aquecia mesmo nossos corpos era a pimenta da comida.

Ano novo – família do Sri Lanka

Demorei alguns meses para me adaptar aos cafés da manhã nos retiros sul-asiáticos. Não só por nunca saber, ao certo, o que eu estava comendo, mas, principalmente, por nunca ser um pão com algo para acompanhá-lo. A única certeza que se tem é a de que não faltará pimenta! Naquela manhã, sentia mais forte ainda as reações do meu corpo àquele alimento. Havia dormido pouquíssimo, e fazia 19h que nada comia. Sentia os legumes mais parte de mim do que nunca, conseguia pensar em toda a chuva que provavelmente eles tinham recebido – mesmo não sendo a época das monções –, em enxada suada, terra e sol. Aquele sol que já estava no meu rosto no início da primeira meditação em grupo do dia.

O sol também anunciava nossa primeira prática tempos depois, quando estávamos no sul do Sri Lanka, depois de 45 dias intensivos de yoga, em Rishikesh, Índia. Moramos, por volta de um mês, em um quarto alugado em cima da casa de uma pequena família. Éramos somente nós dois, em frente a um mar desabitado por humanos; esses pareciam só o descobrir no final da tarde, quando no horizonte apontavam os barcos de pesca locais, vindos com o pôr do sol. Os pescadores nadavam por poucos minutos antes de desaparecerem, levando consigo qualquer luminosidade. Toda noite, o mar parecia um intruso em nosso quartinho, que, improvisadamente, estava, pelo menos, a 4 metros do chão, e a uns 100 metros das ondas. E nós, um intrometido recado ocidental de que aquele era dia de Natal.

Fomos ao centrinho comercial que ficava a 10 km, compramos chocolates, bolo, sorvete e oferecemos aos filhos do casal que nos hospedava, como um presente natalino – que, na nossa versão, mais parecia dia de Cosme e Damião. À noite, sempre comíamos na varanda em frente ao nosso quarto. Fazíamos duas refeições por dia, manhã e fim de tarde, todas feitas pela senhora que nos hospedava, quem cuidadosamente atendia às nossas restrições vegetarianas. Aquela noite ela pediu para que descêssemos à praia. A escada que saía do nosso quarto formava um ângulo de quase 90 graus com a parede da casa principal. Naquela privilegiada escuridão de quem não tem vizinhos, descer era uma aventura – subir, também. Na areia, ela e o casal de gêmeos haviam improvisado um jantar de Natal para nós dois. Kotthu roti vegetariano[6], ela escolheu meu prato favorito. O café da manhã para dois estava incluído na diária que pagávamos, porém, na janta, era um só prato que dividíamos. Mas na maioria dessas nossas segundas refeições – naquela noite mais ainda – ela trazia o prato que escolhíamos, guarnecido com generosas porções de frutas e uma variedade de cumbuquinhas de comida extra que ela teria feito durante o dia e nos ofertava generosamente, para engrossar nossa janta. Naquela ceia natalina, entretanto, tinha comida para três noites e dois chaveiros de ursinhos de pelúcia embrulhados para presente, tudo regado a muita lágrima por termos encontrado tanto acolhimento no desconhecido. Não conseguíamos conversar sobre nada com aquela senhora, nem mesmo tínhamos 100% de acerto quando falávamos de horas, mas a nossa comunicação era abundante. Nos amamos, como o amor ama, sem conhecer razão para amar, mais do que amar[7].

Estatua de Buddha com os barbantes

No ano novo, já éramos uma sangha de 6. Os tímidos gêmeos nos chamaram para a sala de estar da casa principal. Entrando, vimos que a mãe fazia uma minúscula fogueira no chão, no meio da sala. Sobre suas chamas, ferveu leite em uma panela de barro. Entregou-nos gravetos, para que nós, também, fizéssemos parte do borbulhar do leite. E lá transbordávamos em harmonia. Deu-nos Kiribath – uma espécie de pudim feito de arroz – de café da manhã. Durante o café, em uma comunicação truncada, entendemos que nos tinha sido feito um convite para irmos ao templo juntos. Lá, rodeamos estupas e reverenciamos muitos meninos-monges, aos quais entregávamos humildemente nossos braços para que amarrassem auspiciosos barbantes em nossos pulsos; emocionando, dessa vez, nossa família anfitriã. Ao nos verem fazer prostrações para os monges, como havíamos antes visto os moradores locais fazerem, o pai, verdadeiramente comovido, disse estar muito feliz e que não esperava essa demonstração de respeito vindo de ocidentais. Agradecemos, então, a ele e aos filhos por nos terem convidado a participar da fé e dos ritos que nutrem aquela família construída à beira do Oceano Índico.

Na manhã da nossa partida, depois de caminhar em passos de despedida pela areia, vi que ia sentir falta daqueles roncos noturnos das ondas. Aquele mar, em mais nada, me era estrangeiro. Em direção à estação de trem, com o pacote de mais um presente que acabara de ganhar da nossa anfitriã, após um silencioso olhar de adeus, via que, tampouco, nós continuávamos estranhos àquela família. Em uma espécie de economia de afetos, saíamos mais ricos daquele país.

Naquele pós-vigília, também me sentia milionária. Acabada em meditação, adentro meu kuti, no monastério tailandês. Deitada sobre o que apelidei de cama, sob os efeitos de tantos insights que a noite de meditação me proporcionara, encarava o teto com uma gratidão que não me era típica. Sentindo o meu peso sobre aquela faixa de espuma, dobrando os joelhos, para poupar a lombar, estava feliz visualizando o banho de balde com água gelada que estava preste a tomar. O dia estava quente, a pimenta do almoço ainda fazia efeito, e meu coração aquecido por todas as realizações que o Dharma havia me proporcionado. Com tanta quentura, sentia-me flutuando como as lanternas que anos depois soltávamos em Mun Mueang Road na altura do Tha Pae Gate, em Chiang Mai.

Enquanto isso, no dormitório masculino, também deitado no chão, sobre a esteira de palha e o acolchoado que me recebiam todas as noites, eu tentava achar uma posição minimamente confortável para conseguir pegar no sono. O cansaço era grande, pois normalmente íamos dormir às 10 da noite, depois de horas de meditação, palestras, estudo e trabalho, lavando louças e varrendo salas, dormitórios e os enormes gramados do monastério. Entretanto, nessa “noite de réveillon”, não só tínhamos tido a mesma rotina dos outros dias, como sessões de meditação noturnas, intercaladas com discursos de dois monges professores, que, sem aviso, viraram madrugais. Fazíamos pequenas pausas para tomar chá ou café e voltávamos para nossas almofadas, hora após hora. Corpo e cabeça cansados, mas, mesmo assim, eu não conseguia começar a dormir. Sentia a dureza do piso de madeira pressionando os músculos doloridos das costas e era como se continuasse a ouvir as palavras em Pali dos sutras que entoávamos horas antes. Ainda assim, não sentia nenhuma aversão, muito pelo contrário, era percorrido apenas por uma felicidade leve e calma.

Ritual com os barbantes dentro do templo

 

Havia acabado de passar por uma mudança de ano muito especial. Do outro lado do mundo, apenas eu e minha esposa e ainda assim, separados pelas regras de convivência do local, que nos davam apenas alguns intervalos por dia para interagirmos, sem nunca nos tocarmos. Um final de ano sem a presença de nenhum amigo ou outro familiar, sem banquetes – não comíamos desde as 11:30h da manhã, como em todos os outros dias, seguindo as regras monásticas daquela tradição –, sem músicas, sem fogos, sem bebidas e sem abraços e beijos. O piso de madeira pressionando a musculatura, os sutras ecoando na mente, lembranças de trechos dos dhamma talks e a imagem do sorriso da Tamara e de seus olhos molhados ao me desejar boa noite a distância… tudo cada vez mais misturado e confuso até que, finalmente, dormi.

No dia seguinte, voltamos à rotina, às 5 da manhã, meditação ou recitação dos sutras no dormitório, depois oferecemos arroz aos monges, tomamos nosso café da manhã, fizemos meditação sentados e, na sequência, meditação caminhando pelo bosque, guiados por dois monges, e chegou a hora do primeiro almoço do novo ano. Todo almoço era um momento de grande solenidade. As enormes panelas, cujo conteúdo logo iria alimentar dezenas de praticantes, eram logo redistribuídas, em bandejas e cumbucas, separando-se as porções que seriam ofertadas aos monges, que já esperavam na plataforma de madeira onde meditam e dão suas palestras. Cada alimento é entregue separadamente, por nós, praticantes leigos, que os passamos de mão em mão até que cheguem aos bhikkhus. Os voluntários tailandeses, que dão as instruções para todos que chegam pela primeira vez, sempre explicam, especialmente aos ocidentais, que é considerada uma grande oportunidade meritória oferecer alimentos à Sangha. Assim, todos nós que lá estamos, de alguma forma, nos tornamos corresponsáveis pela alimentação dos monges. Depois disso, acontecem os cânticos de benção e agradecimento em pali e, sempre, um dos membros monásticos faz um curto discurso sobre a importância de não se comer com avidez, de perceber que o alimento é exclusivamente para nutrir o corpo e prepará-lo para mais horas de meditação. Comer se torna, assim, uma forma de prática espiritual. Se servir, se sentar, refletir e meditar, antes de sequer pensar em se alimentar, são atitudes ritualísticas que ajudam a se estar verdadeiramente presente quando a primeira porção de comida entra em contato com a boca.

Naquele dia, o almoço era especial, havia uma variedade bem maior de comida do que de costume. Além dos legumes e grãos submersos em curry, havia diferentes snacks, bolinhos, sopas de macarrão. Alguns moradores locais haviam doado os pratos especiais. Prática que depois, com a experiência, descobrimos ser comum. Em datas especiais, famílias tailandesas fazem doações maiores de alimentos. Certa vez, alguns anos depois, durante uma outra estadia de semanas que passamos naquele mesmo monastério, por exemplo, uma praticante faria a oferta de um verdadeiro banquete para comemorar seu aniversário, compartilhando os méritos com todos.

O cansaço das longas horas sentado em minha almofada na noite anterior voltou ainda mais forte após a grande refeição, mas ainda não era hora de relaxar. Fui carregar restos do almoço, cascas de frutas e legumes, para jogar para os peixes que habitam dois lagos nas redondezas junto com um senhor camponês tailandês, que por volta de seus sessenta e poucos anos, tinha o corpo todo coberto, dos pés ao pescoço, de tatuagens protetoras[8]. Ele não falava uma só palavra de inglês e nem eu de tailandês, então nossa comunicação era toda feita por sinais de mãos, expressões faciais e olhares. Assim, íamos nos entendendo, carregando as pesadas bacias, uma após a outra, até os lagos. Invariavelmente, após ver os peixes pularem na superfície empolgados com as generosas ofertas de comida, ele sorria para mim como, até então, eu pensava que apenas uma criança seria capaz. Nada era desperdiçado. Desde a época de Buddha, cada grão de arroz ou pedaço de legumes, cogumelos e verduras ingerido por aquela linhagem de monges era fruto da doação de pessoas comuns. Era um privilégio tremendo estar ali, fazer parte daquilo, comer daquele alimento compartilhado pela Sangha. Você se sente devedor de todo um povo que não é, de forma alguma, materialmente rico. Minha prática ganhou muita força por meio dessa percepção. Cada minuto desperdiçado, cada falta de atenção ou momento de preguiça seriam como que uma fraude, como se eu estivesse rompendo um pacto milenar com o povo que me nutria, sem necessariamente receber de mim nada em troca.

Durante as sessões da tarde e da noite, minha concentração lutava contra as dores musculares e o desgaste mental. A essa altura, entretanto, eu já tinha uma vivência mínima em retiros que me permitia entender que todo esse processo doloroso é parte indispensável do treinamento da mente. Ao lado do refeitório, há uma biblioteca com diversos livros budistas disponíveis para serem lidos nas horas de descanso e eu estava lendo “In Simple Terms” (2011), de Ajahn Chah. E, justamente, havia anotado naquele dia uma frase que se encaixava perfeitamente à situação “a prática é como um homem esfregando duas varetas”. Ajahn Chah explica que uma pessoa ouve dizerem que se duas varetas de madeira forem esfregadas, chamas serão produzidas. Então essa pessoa começa a esfregar os gravetos, ansiando pelo rápido surgimento do fogo, mas assim que fica cansada, para um pouco para descansar. Mais tarde, volta a esfregá-las, mas os braços começam a doer e ela para novamente. Assim, o calor gerado se dissipa, pois não se conecta com o calor produzido na tentativa anterior. Se continuar agindo assim, parando sempre que estiver cansado, logo essa pessoa irá desistir. Ela dirá às outras que não há fogo algum, que ela tentou essa prática por tanto tempo e nunca viu qualquer fogo, logo, é uma perda de tempo.

O grande mestre tailandês tinha esse talento de tornar simples a compreensão dos desafios que enfrentamos em nosso caminho. Ele, provavelmente, viu essa história se repetir incontáveis vezes. Uma pessoa pede por instruções, ouve algumas palestras, faz sessões de meditação, mas quando começa a sentir a perna ou as costas doerem, abandona a posição e se alonga, no outro dia acorda cansada e decide que é melhor não meditar, em outra sessão sente que o tempo não está passando e decide olhar para o relógio. Segue com sua prática de tal forma por mais algum tempo e acaba, finalmente, abandonando tudo, pois “depois de tanto esforço, não conseguiu perceber resultados”.

Comentando sobre essa passagem do livro com a Tamara, concordamos que nos esforçaríamos para não desistir de esfregar nossos gravetos até o aparecimento de alguma chama. E assim tentamos seguir, até hoje, atentos a qualquer sinal de fumaça que, porventura, possa vir a surgir.

 

 

Texto de

Tamara Carneiro, Linguista Aplicada e professora de línguas. Praticante na Daissen Ji, Escola Soto Zen

Thomás Rosa, professor de Teorias da Comunicação e Jornalista.  Praticante na Daissen Ji, Escola Soto Zen.

 

 

 

Referências:

 CHAH, Ajahn. In Simple Terms. Forest Sangha Publications, 2011.

ROMMELUERE, Éric. “Les bouddhas naissent dans le feu”. Éditions du Seuil, 2007.

 

 

[1] Nos mosteiros da Tailândia, geralmente os não-ordenados são chamados de “lay people” (“pessoas leigas”, em inglês). Neste mosteiro Zen, entretanto, eles utilizam a expressão “lay friend” (“amigo leigo”, em inglês). Acredito que tal inclusão semântica lhes seja muito cara, pois nas diversas vezes em que fizemos retiros lá, nunca escutamos nenhuma referência a nós – e nem a outros leigos – de forma abreviada.

[2] Zhaozhu Congshen (778-897), conhecido no Japão por Jôshû Jûshin, é um dos sucessores de Nanquan.

[3] Este diálogo está presente no livro “Les bouddhas naissent dans le feu” de Éric Rommeluere (2007, p. 72). O autor explica que na China, na época em que o diálogo citado ocorreu, o dia era dividido em 12 horas, não 24.

[4] Nos templos tailandeses, na virada de ano do calendário ocidental, um barbante é amarrado às cabeças das principais estátuas de Buddha e de lá se tornam uma gigantesca teia que percorre a sala principal. As pessoas se reúnem nos templos para passarem a mudança de dia meditando e cada um pega uma ponta do barbante e enrola na própria cabeça, criando uma conexão física simbólica entre todos e o Buddha. Ao final, retiramos os barbantes das cabeças, e os amarramos em nossos pulsos.

[5] Os monges Theravada da Floresta, no sudeste asiático, seguem a tradição das regras monásticas originais e não podem plantar, colher, cozinhar ou armazenar alimentos; comem, somente, o que lhes for oferecido como esmola no mesmo dia. Essa ronda diária para receber alimentos da comunidade é chamada pindapāta.

[6] Este prato é típico do Sri Lanka

[7] Fernando Pessoa.

[8] Sak Yant são tatuagens consideradas sagradas por parte dos tailandeses e a elas são atribuídos poderes de proteção e de abençoar seus portadores, desde que obedeçam a certas regras impostas pelo tatuador. De forma sincrética, essas crenças foram incorporadas à cultura do país e muitas vezes se misturam com o próprio budismo.

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