Quando a Prática do Outro é Mais Importante que a Sua

 

O que???? Um budista fazendo isso? Que vergonha! ” Ou “um monge falando dessa forma? Que absurdo! ”… “Vamos ser todos compassivos…”.  “Vamos fazer um shambalauê e ver o mundo em cores pastéis…”

Acho que todo budista já passou por isso, não é? E quanto mais sério você pratica mais gente está disposta a lhe apontar o dedo e te cobrar uma “iluminação imediata”. A internet está cheia de “patrulheiros do Dharma”, sim, aqueles que ficam de prontidão para te apontar o dedo e te cobrar de uma prática e uma postura que ele mesmo está a anos-luz de ter, mas é mais fácil ele te cobrar do que ele mesmo fazer.

Praticar não é algo fácil, nem simples. Requer estudo (sim! Requer estudo!), requer um guia, requer paciência e requer autocentrismo. O Budismo é uma religião individual, porém grupal, ou seja, a prática depende única e exclusivamente de você, porém beneficia toda uma sociedade. Independente do caminho a seguir, existe uma aplicação inerente ao ser-humano da sabedoria búdica, e Buda sempre foi enfático em mostrar que embora vivamos na sangha e que esse seja um de nossos Tesouros, o foco é a cessação do nosso próprio ego e trata-se de atividade impossível a manutenção do karma alheio, apenas a geração de causas e condições para os outros.

O caminho budista não é fácil. Não há a quem implorar, pedir, rogar. Somos nós diante do espelho de nossa consciência e encarando nossos demônios internos como exércitos de um único homem e de um homem fraco com poucas armas.

Ainda diante desse fato, nos empoderamos de um patrulhamento para julgar o estado da prática ou as atitudes alheias sem mesmo olhar para as nossas, ou nos cobrar de algo melhor. Parece que nos esquecemos que entrar no Caminho não é vencer o caminho, ou que entrar no Caminho é torná-lo mais árduo. Mas sempre vem o “materialismo espiritual” quando nos arvoramos de entendidos e superiores para julgar os que estão em diferentes estágios, quando nem mesmo deixamos as fraldas e queremos nos vestir como Devas.

O Caminho Óctuplo deixa uma sequência importante de ensinamentos e ele tem uma série pré-definida para seguir e o primeiro estágio, o Primeiro Caminho, é o Entendimento Correto! O Entendimento Correto se foca única e exclusivamente na compreensão de que tudo está associado às Quatro Nobres Verdades e que se não as entendemos não podemos seguir, pois a Atenção Correta (sati) vem depois e a Ação Correta… muito depois. Mas a “patrulha do Dharma” coloca tudo ao contrário, primeiro a Ação Correta, mesmo que ela venha cheia de erros de concepção e de desorientação. E tudo isso apenas para uma projeção social ou uma “soberba dharmica” desmedida e intolerante.

São justamente esses “patrulheiros” que viram “monges cosplay” ou “dharma influencers”, pois acreditam que possuem o Verdadeiro Entendimento e que são donos da Verdade colocando todos que têm mais quilômetros dharmicos rodados como errados ou os tratam com mediocridade.

Porém, Buda Shakyamuni previu isso. Estamos na “era do mappō”, da destruição do Dharma Correto e essa não é a pior parte…. A pior parte é que ela ainda vai durar alguns milênios.

Foque-se no seu ego e deixo os outros em paz…

 

Texto de Monge Hondaku. Escola Terra Pura – Budismo Shin.

 

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