Qual a Postura do Budismo sobre o Princípio e o Fim do Universo?

 

Primeiramente, seria bom esclarecer que o Budismo não se destina a dar essas respostas. Buda, em geral, calava-se diante de tais perguntas por considerar que se estaria, assim, afastando do problema do sofrimento e caminhando em direção à especulação filosófica.

O resultado final foi que o Budismo jamais se comprometeu com qualquer interpretação do universo e assim ficou livre de ter que defender sua concepção e lutar contra a ciência.

Porém, podemos fazer certas deduções da ideia budista. De modo muito interessante, elas tornaram-se mais claras depois do surgimento da relatividade geral (1917) e sua ideia de um tempo diferente para cada observador, um tempo com forma e curvo, dependente do espaço e mesmo passível de ser parado por ele numa singularidade, como um buraco negro em que a curvatura fosse ao extremo curvando o espaço e o tempo completamente. Também a mecânica quântica (1930), a incompletude de Godel, e o princípio de incerteza de Heisenberg, todos pontos que mostram limites ao que pode ser determinado pela ciência e pelo homem, limites teóricos para a própria matemática, que assim se viu sem instrumentos para avançar em certas direções quando depende apenas do método dedutivo.

Digo isso para tornar claro que não se pretende, no Budismo, responder a tais questões. Wittgenstein demonstrou em termos filosóficos a dificuldade da própria linguagem como meio de entender o além de certo ponto.

Os próprios sistemas de pensamento e seus símbolos tocam ao fim em indecidibilidades. Não se pode ir além desse ponto com os instrumentos normais. Isso ocorre, por exemplo, com o infinitamente pequeno, para acelerar uma partícula e investigar tamanhos próximos ao limite da constante de Planck, seria preciso um acelerador da circunferência do sistema solar. Por enquanto, estamos distantes de construí-lo.

Posso, por fim, apenas especular que parece, no momento, que a natureza do universo é esta que vemos, apenas porque estamos aqui para perguntar.

Em outros universos, com outros tempos, ou dimensões, podem não haver perguntadores. Talvez, na maioria desses mundos, seja impossível que surjam perguntadores por não haver condição para tanto.

Neste universo que vemos, parece que a vida inteligente é raríssima. Mas o Vazio parece que pouco se importa com isso. Nem teria como se importar, visto sua natureza ser apenas a base de onde tudo surge, como a água dos oceanos, que pouco se importa de como são as ondas e a vida que surge nela.

No universo em geral, surgem manifestações pela própria natureza da variação quântica. Nem a energia, nem a matéria se distribuem uniformemente e as flutuações vão provocando os surgimentos de estrelas, galáxias etc.

Parece, então, que é da natureza do universo não uniforme que surjam variações cada vez mais complexas, quando há oportunidade. Parece ser condição de existência do universo.

Não sabemos porque é assim. Sabemos que há condição para o surgimento da vida, que há sofrimento, que se geram karmas e podemos deduzir que ao fim haverá entropia e toda a energia se equilibrará extinguindo o movimento.

Mas podemos deduzir que o Vazio permanece e que variações quaisquer farão surgir novos dias universais de bilhões de anos que gerarão o surgimento de novos tempos universais.

Penso que os Budas surgem naturalmente onde há inteligência e tempo para tanto, para alçar os universos a outras condições mais altas.

A qual fim se chega, não posso especular. Porém reafirmo que toda a especulação que fiz não é Budismo, é apenas uma tentativa de demonstrar que esta especulação não resolve agora o essencial, o sofrimento do teu irmão perdido.

Somos todos participantes desse carma e o universo está muito longe de se acalmar enquanto todos os carmas não se resolverem. Este é o problema real, o resto é viagem das mentes curiosas.

 

Fonte: Perguntas e respostas utilizadas nos ensinamentos da comunidade Daissen.

 

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