Em certa ação fiscal em atendimento a uma denúncia, constatamos a presença de grande volume de água poluída saindo das tubulações de um edifício. Conversando com os responsáveis pela administração do prédio achei curioso o modo como eles encararam a situação. No momento um dos zeladores nos disse que tal acontecimento era corriqueiro e que logo resolveriam, com expressão de desdém. Para mim, as pessoas com quem conversamos não tinham a real dimensão do impacto que tal ação estava gerando em diversas vias adjacentes, fazendo que água de esgoto fosse propagada por vários metros. Refletindo sobre essa situação e diversas outras conclui que não compreendemos, por diversas vezes, os impactos de nossas atividades diárias. O que parece pouco, pode fazer uma grande diferença, tanto no sentido positivo como no negativo.
Quando tratamos dos gravíssimos problemas do desastre climático que se apresenta, frequentemente podemos nos sentir pequenos e impotentes perante dados como os apresentados no último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) lançado em 2022. Entre os desafios destaco o número de cidades com problemas de enchentes, tempestades aterrorizantes, falta de água, extinção de um milhão de espécies de plantas e de animais e outros.
Porém, como entendemos no budismo, estamos profundamente interconectados. Pensarmos em cada ação diária é de extrema importância para uma nova consciência ambiental, especialmente quando nossas ações extrapolam o campo do indivíduo e alcança um coletivo. No livro Ecodarma Ensinamentos Budistas para a Urgência Ecológica, de David Loy, há uma citação que ilustra essa ideia e diz: “Uma amiga minha participou uma vez de uma reunião do Conselho Municipal em sua comunidade e topou com uma mulher que estava repetidamente levantando a questão da proibição dos sacos de plástico. Desanimada, a mulher disse que parecia não conseguir ganhar o respeito da Câmara Municipal. Minha amiga respondeu: “Você não precisa de respeito; precisa de uma amiga. Uma pessoa é um maluco. Duas pessoas são um sinal de alerta. Três pessoas são um movimento” Lama Willa Miller, p. 168 e 169 do livro Ecodarma.
Há diversos exemplos de como podemos fazer um grande movimento e diminuir nosso impacto. Existe a prática de exercícios físicos como corrida e caminhada atrelado a atividade de limpeza do lixo em parques e área públicas. Para isso, foi criado até um nome, Plogging, pensado pela junção da palavra sueca plocka upp (recolher) e da palavra inglesa jogging (corrida a pé de baixa velocidade). Essas atitudes ganharam força e atualmente são praticadas em diversas cidades do mundo.
Assim, aproveitando o início desse ano e o simbolismo de uma nova oportunidade que se inicia faço votos de que tenhamos força para persistir e continuar esse “trabalho de formiguinhas” em prol de um meio ambiente equilibrado. Que tenhamos inspiração nos votos do bodhisattva sabendo que ainda que possa ser impossível reverter as consequências criadas por nossas próprias ações, que façamos votos de cuidar de todos os seres, incluindo o grande planeta terra.
Liana Oliveira Lopes Borges. Auditora Fiscal do Meio Ambiente, praticante na Daissen Ji. Escola Soto Zen.
Referências:
https://brasil.un.org/pt-br/176750-novo-relatorio-do-ipcc-mensagem-do-secretario-geral-da-onu
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-64095043