Se tudo é vazio também não existimos?
Essa questão do vazio não é o niilismo (vazio existencial). O vazio de que falamos no Budismo é um vazio de condicionalidades, de um EU. Poderíamos até usar a palavra Deus como sinônimo de “vazio”, mas seria um deus que não cria, não interfere, sem pessoalidade. Dele tudo surge naturalmente. Por isso, a palavra “vazio” fica melhor.
É evidente que existimos, pelo menos relativamente, e tudo que você vê também existe. O problema é que você vê através de um filtro de concepções que já estão em sua mente, assim como vemos formas nas nuvens: elas não existem, mas existem dentro de você.
Se sua mente se esvaziar de concepções, você será capaz de ver a realidade pura. Esta seria uma mente vazia, uma mente desperta, como Buda, o desperto.
Praticamos a meditação para despertar, porque estamos vivendo como em um sonho, uma vida de ilusões. Mas se ficarmos no estágio de “limpar” a mente, permaneceremos lutando contra ela e não podemos vencê-la.
Hui Neng nos deixou essa profunda lição, dizendo que mesmo a mente com a qual lutamos não passa de uma ilusão, de um agregado de pensamentos em sucessão. É preciso enxergar o “vazio” que está além desses pensamentos. Penetrado esse segredo, todo o universo que vemos se altera, não deixa de existir, mas seu significado é outro, porque os olhos do espectador se esvaziaram das condicionalidades que um “EU” gera.
As nuvens passam a ser nuvens verdadeiramente, de uma beleza arrasadora que antes não possuíam. Ou melhor, possuíam, mas isso era invisível para os olhos que nelas viam formas inexistentes, como em tudo: vemos significados que estão em nós, interpretações produzidas pelas nossas marcas kármicas.
Dessa forma, temos algum domínio, mas não completo, na realidade bastante relativizado. Mas a ideia de um destino determinado é um outro absurdo lógico, seríamos apenas marionetes de uma peça escrita por outro.
Fonte: Perguntas e respostas utilizadas nos ensinamentos da comunidade Daissen.
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