Os mudras são os gestos simbólicos que são muito utilizados na iconografia Hindu, seja no Budismo, no Yoga ou na Dança Indiana.
A palavra Mudrā ou Inzō (印相) em Japonês, significa literalmente “selo” ou “gesto”. Esses gestos são incorporados ao folclore e ao inconsciente coletivo de diversas civilizações e culturas, tendo diversos significados e características. Na arte indiana, hinduísta e budista, o mudra expressa diferentes posturas do corpo e das mãos simbolizando suas funções ou aludindo a determinados acontecimentos mitológicos. Essa iconografia nasce provavelmente na Índia, contendo uma simbologia extremamente rica que relaciona o macrocosmo (o universo) e o microcosmo (o corpo). Os Hindus acreditavam que, assim como o universo, o corpo é formado por cinco elementos básicos e cada dedo apresenta um meio de conexão com estes elementos. Ao combiná-los, conectando-os e formando o gesto, produz-se um efeito específico no corpo e na mente.
No Budismo as posições de mão são um instrumento que servem para nos trazer o aqui e agora, o nosso eixo, o nosso centro. São expressões da nossa natureza. Como forma de nos mantermos alertas e conscientes, mantendo as posturas como cordas de um violão: nem muito tensas, nem muito soltas. Essas posturas simbólicas dos dedos ou do corpo podem representar determinados estados ou processos da consciência e vice-versa, levando aos estados de consciência que as simbolizam, proporcionando o equilíbrio ou a unidade de todo o nosso ser. Corpo-mente-coração unidos, uma coisa só no mesmo instante no mesmo momento, sem distração.
No Zen Budismo usamos basicamente três tipos de mudras:
O Gasshô:
É formado pela junção das mãos, colocadas a frente do nosso corpo, com os dedos estendidos a um palmo de distância na altura do nariz, os braços posicionados em linha reta paralelos ao chão e a coluna se mantém reta. Existem algumas variáveis utilizadas pelos mestres durante algumas cerimônias. Seu significado remete ao equilíbrio dos dois hemisférios do cérebro, elevando o estado de consciência. Expressa agradecimento, atenção, fé, respeito e não-dualidade. Corpo-mente-coração sendo o próprio universo.
O Shashu:
Nesta postura, as mãos encontram-se em frente ao peito com o polegar esquerdo abraçado pelos outros dedos da mesma mão, formando um punho fechado. Sob a mão esquerda, a mão direita descansa cobrindo-a. O polegar direito se apoia entre o polegar e o indicador da mão esquerda, mantendo todos os demais dedos juntos a frente da mão esquerda. Os antebraços mantêm-se em linha reta, paralelos ao chão, em frente ao peito e a coluna se mantém ereta.
Usamos esse mudra sempre que estivermos em pé, seja parado ou em movimento no local de prática, templo ou mosteiro, ou ainda durante a prática do kinhin que é a meditação em movimento.
O Hokkai- jōin ou Mudra cósmico:
Este mudra simboliza a sabedoria e foi utilizado por Buda Shakyamuni no final da sua meditação embaixo da árvore Bodhi, onde alcançou a iluminação. Ele nos conduz à concentração profunda, expressando o equilíbrio da nossa mente e corpo.
Durante o zazen, nossas mãos posicionam-se de forma oval representando a unidade do cosmos em nós, e nós no cosmos. O dorso da mão direita repousa sobre a coxa ou sobre o pé, caso a pessoa se senta na posição de lótus, com a palma da mão para cima. O dorso da mão esquerda repousa sobre a palma da mão direita fazendo coincidir as articulações dos dedos. Os dedos mínimos das mãos tocam o tanden ou hara (ou baixo abdômen). As pontas dos polegares se tocam suavemente, como se entre elas houvesse uma finíssima folha a ser sustentada sem amassar e sem deixar cair. Os polegares servem como um bom termômetro da prática, pois mostra a nossa concentração. Se estivermos tensos ou preocupados, podem se enrijecer; se estivermos distraídos, ou ainda se houver sonolência ou desânimo, podem se separar. Somos um com todo o universo. Nada entra, nada sai. Não existe interior nem exterior.
Esse mudra é a expressão do nosso zazen. Estamos aqui conscientes de que somos um com todas as coisas, um com o universo. Sem separação.
No Japão, na maioria dos templos e mosteiros, os monges não devem cobrir suas mãos durante o zazen, pois, desta forma, fica em evidencia o estado da mente de cada um de nós.
Olhando a estatuaria budista podemos observar que Buda é representado com o mudra invertido ao que usamos. Por estar desperto, essa inversão simboliza que ele se apoia na intuição. Nossa postura nos mostra que nos apoiamos na razão, pois ainda sonhamos sonhos de ilusões.
Procuremos manter os mudras e as posturas do corpo bem formadas. Cuidando das posturas nos apropriamos de cada pedacinho do nosso corpo e, com a prática, contínua e firme, deixamos de lado o mundo objetivo. Com essa prática abrimos mão de nossos quereres e preferências e só então entramos em perfeito equilíbrio, corpo-mente-coração. Aqui está a verdadeira liberdade, o despertar.
Desejo uma ótima prática a todos!
Texto de monja Sodô. Monja na Daissen Ji. Escola Soto Zen.