Entrevista com Jimi Neal

 

De um show de Jimi Hendrix para a prática de 100 mil prostrações em uma cabana na Índia

 

Eu vi os expoentes da minha geração destruídos pela loucura, morrendo de fome, histéricos, nus, arrastando-se pelas ruas do bairro negro de madrugada em busca de uma dose violenta de qualquer coisa, hipsters com cabeça de anjo ansiando pelo antigo contato celestial com o dínamo estrelado da maquinaria da noite, que pobres, esfarrapados e olheiras fundas, viajaram fumando sentados na sobrenatural escuridão dos miseráveis apartamentos sem água quente, flutuando sobre os tetos das cidades contemplando jazz (…)” Allen Ginsberg, “O Uivo”.[1]

Muitos anos atrás, antes mesmo de começar a estudar o Dharma, me deparei com Ginsberg e Kerouac nas estantes de livros aqui de casa. Ali, fui apresentado à chamada Geração Beat que, com sua espontaneidade inconformada, buscava mudar a cultura norte-americana a partir de dentro, não só com suas obras literárias, mas com a própria forma de viver. Afinal, sua literatura se nutria das experiências pessoais e grupais de jovens que ao mesmo tempo em que viviam na boemia, transformavam a maneira como se escrevia e desafiavam os valores morais e a censura da época.

Ali, naqueles primeiros encontros, os relatos crus, e ao mesmo tempo poéticos, de vidas entregues ao hedonismo, vidas que acabavam muitas vezes de forma trágica, como podemos perceber pela citação de abertura do texto, não foram o que mais me chamaram a atenção. Eu estava interessado nos que usaram toda a liberdade conquistada para ir além do prazer e se abriram para outras formas de viver. Me interessava a fascinação de alguns pelo oriente e, mais especificamente, pelo budismo.

Em “Vagabundos Iluminados”, de Kerouac, ouvi falar pela primeira vez de seu amigo que viajou para o Japão para estudar o Zen por anos entre as décadas de 1950 e 1960, depois, fui saber que se tratava do premiado poeta e ativista Garry Snyder. Além dele, o próprio Ginsberg acabou por se tornar um praticante do Budismo Tibetano, tendo sido responsável pelo departamento de poesia da Naropa University, de Chogyam Trungpa Rinpoche. Sobre os Beats, Ginsberg disse: “Minha impressão é a de que contribuímos para um encontro direto entre a mente oriental e a ocidental. A introdução da meditação na poesia norte-americana também foi uma contribuição importante.”[2]

Pois muitos anos depois, em 2018, eu e Tamara já perambulávamos a Ásia há uns anos e fomos parar no Norte da Índia em busca de aprendizado, e acabamos fazendo um retiro que abrangia práticas meditativas, além de ser um curso teórico sobre budismo tibetano, e, depois, dois outros retiros na mesma tradição. Lá conhecemos Jimi Neal, um professor do Dharma, discípulo direto de Lama Yeshe, que ilustrava conceitos budistas com histórias de sua trajetória pessoal, histórias que me remetiam diretamente aos relatos da Geração Beat que li na minha juventude. Um homem que a cada frase transmite uma enorme devoção pelo seu guru e pelos grandes lamas com quem teve contato, e que, ao mesmo tempo, faz-se representante de um momento histórico muito especial quando o ocidente se abriu para o oriente e algumas pessoas cruzaram oceanos para buscar um novo caminho. Quase quatro anos e uma pandemia depois, pedimos para que nos concedesse uma entrevista e contasse algumas de suas histórias para os leitores do Budismo Hoje.

Em primeiro lugar, gostaríamos de agradecê-lo por estar sempre disponível para a divulgação do Dharma. Quanto à nossa entrevista, a ideia é que compartilhe com os leitores um pouco da sua história. Para começar, queríamos falar sobre o processo de descoberta e conexão com o budismo. Como isso se deu?

Jimi Neal: Certo, o começo. Vamos voltar para meus amigos mais próximos na América. Nos anos 1960, eu e esse grupo de amigos, vivíamos uma vida muito diferente, chegávamos a tomar ácido cinco dias por semana. Um deles acabou parando neste monastério budista chinês muito rigoroso, em Chinatown, e lá havia um grande mestre. Logo depois, outro dos nossos amigos resolveu ir também. Ambos são brilhantes! Éramos melhores amigos. Então, pensei em fazer uma visita para eles. Talvez eu tenha te contado esta história antes. Na verdade, eu estava em um show de Jimi Hendrix e pensei: “acho que vou encontrar David e Mike”.

Ao chegar ao monastério, é como se estivesse totalmente tonto, havia uma energia forte e pacífica. Este mestre era muito poderoso. Todas as pessoas estavam se curvando, ouvindo o Sutra do Diamante. Ting Ting (imitando som de sinos). Então, algo aconteceu lá. E o que me surpreendeu foi ver esse amigo, aquele que foi primeiro para lá, traduzindo o mais alto nível de chinês, de mandarim. Ele estava lá há apenas seis meses! E, de repente, sabia chinês fluente e perfeitamente. E então, de alguma forma, imediatamente eu acreditei em renascimento. Eu conheço esse cara desde a 5ª série. E eu apenas pensei “uau!”

 

E foi o impacto de testemunhar essas mudanças no seu amigo que o estimularam a começar a se tornar um praticante?

Jimi Neal: Na realidade, quando eu estava lá, eles me convidaram para ficar, “você pode ficar! Você não precisa sair. Estamos prestes a começar uma sessão de 99 dias, 23 horas por dia, recitando o nome de Buddha”. De cara já respondi, “Uau. Eu tenho que sair daqui. Estou estacionado em fila dupla em Chinatown. Até mais!”. Não é para mim! (risos) Eles eram tão rígidos naquele lugar, que fizeram um voto de nunca nem se deitar. Dia e noite. Quero dizer, eles eram hardcore.

Só fui começar a achar meu caminho um tempo depois. Fiz a minha primeira viagem à Índia, em 1971, e, bum, me conectei! A Índia é minha casa. Na verdade, eu estava no Nepal na maior parte do tempo, porque quando cheguei à Índia, vindo do Afeganistão, fui ao setor de imigração no aeroporto de Delhi e eles disseram que eu só tinha duas semanas para ficar lá. A questão é que sempre soube que ia para a Índia desde os 12 anos, mas agora estava acontecendo uma guerra entre a Índia e o Paquistão e porque os Estados Unidos apoiaram o Paquistão eu só poderia permanecer lá por 15 dias.

Bem, fui para o Nepal e me envolvi com esse outro país também. Eu via aquelas estupas, ia aos pujas. Desta primeira vez, porém, foi a época em que eu estava muito envolvido com minha namorada, e passávamos a maior parte do tempo fazendo trekking, essas outras coisas. Embora eu tivesse me conectado culturalmente com o budismo, não havia ainda uma conexão formal. E assim, quando saí da Ásia, pensei: “Voltarei ao Dharma”, com certeza. Eu tenho que pegar algum dinheiro, e voltar. Então trabalhei por um ano e depois voltei. Já era 1974 e fiz um curso no Monastério Kopan[3]. E foi aí que conheci Lama Yeshe[4]. Lama Zopa[5] era o responsável pela maior parte das aulas. Ele estava ensinando sobre os Reinos do Inferno durante as primeiras três semanas do curso. Três semanas, Reinos do Inferno, depois 8 dharmas mundanos, e aí como Atisha – o Grande Atisha – trouxe o Budadharma ao Tibete, etc. Primeiro o budismo foi para o Tibete a partir de Padmasambhāva, do século VII. Então as novas escolas de tradução vieram de Atisha. Das quais vieram os Kadampas, não os novos Kadampas. Existem algumas coisas modernas que são meio estranhas, mas delas surgiram os Kagyu e os Sakyas. E então, eventualmente, o Gelug. Mas, enfim, Lama Zopa ensinava sobre essas coisas o tempo todo, e as pessoas iam meio que enlouquecendo.

Lama Yeshe, então, aparece e começa a ensinar sobre apego; que problema alimentar é apego, isso e aquilo é apego. De repente, Lama Yeshe diz “quem disse que apego é de todo ruim?”, e todo mundo diz “gostei deste Lama gordo”. Mas, é claro, ele não estava ensinando isso. Ele não vai contra Rinpoche de jeito nenhum. Ele está apenas tentando abrir espaço para o Dharma dentro das pessoas. Porque muitos não estão prontos para abandonar completamente o apego a esta vida.

A maneira como Lama Zopa ensinou é uma maneira rígida. Mas, seguir os seus ensinamentos e fazer todo o trabalho para a vida futura e nada para esta vida, seja prazeroso ou não, era extremo demais para a maioria das pessoas. É por isso que quando o Dalai Lama ensina, ele diz. “Eu sempre digo 50/50”. 50% para a felicidade desta vida, e 50% para a vida futura, caminho do meio. Porque quase ninguém consegue gastar cada segundo para o Dharma. Consegue? Eles tentam, e depois ficam tão tensos que desistem. Então Lama Yeshe acabou com isso. Lama Yeshe e Dalai Lama.

Por exemplo, havia uma freira no Kopan que se lamentava o tempo todo, “Eu vou para o inferno”! Quando Rinpoche diz inferno algumas pessoas levam para o sentido literal. No entanto, ele só fala para acender um fogo dentro de nós, para aqueles que precisam. O problema é que algumas pessoas simplesmente começam: “Eu vou para o inferno. Eu sou inútil”. E, assim, tornam-se miseráveis. E esta freira era realmente miserável. Então, Lama Yeshe caminhou até ela e perguntou:

– Você está curtindo sua vida aqui, querida?

– Não. Quero dizer, sim. Quero dizer, não. Quero dizer, sim.

Se ela dissesse sim, bem, isso é ruim, porque ela não deveria estar curtindo a vida. E se ela diz “não”, significa que o Dharma não está funcionando. Então ela estava completamente perdida. E ele encerra a conversa: “você deveria pelo menos aproveitar sua vida”. Lama Yeshe dizia “se vocês não conseguem chegar ao Nirvana, deveriam, pelo menos, desfrutar o Samsara”.

Quando você estuda profundamente a mente dentro dos fatores mentais, você vê que cada mente nasce de outra mente semelhante. A mente atual é causada por uma mente anterior do mesmo tipo. Lama Yeshe disse. “Uma mente miserável nunca pode ser a causa de uma mente feliz”. Bum! Direto! Então, se você está usando o Dharma para se tornar triste, você está cultivando mais sofrimento futuro. No entanto, o Dharma deveria deixá-lo aberto, feliz, espontâneo. Feliz por estar fazendo o seu melhor. Então, Lama cortava tudo isso. Quando eu o conheci, soube que era meu Guru. Pronto. Depois fiz mais cursos no Kopan. Aliás, tudo o que contei até aqui foi só para poder explicar como me conectei com o Lama, isso é tudo o que importa.

Então, desde o início, o senhor sabia que Lama Yeshe era seu guru?

Jimi Neal: As pessoas encontram algum guru e geralmente ficam todas intoxicadas. Mas você deve ter calma. Você deve ir muito devagar verificando o guru. Mas eu era uma exceção a isso. De alguma maneira eu sabia que ele era o único. E é uma grande sorte. Há o perigo de que, com você enlouquecendo pelo seu guru, ele se mostre um falso yogi, alguém interessado somente em sexo, dinheiro, o que for, isso acontece muito. Mas com o Lama, foi diferente, eu sabia que ele era meu guru.

 

E então como aconteceu a decisão de se tornar um monge? Quando o senhor se deu conta de que havia em sua cabeça algo como “Ok, eu vou ser um monge”?

Jimi Neal: Eu entrei totalmente no Dharma. Fiz aquele primeiro curso e depois voltei para Dharamsala, eu vivia entre Nepal e Tushita[6] (em Dharamsala); porque naquela época os vistos eram um problema para os americanos, mas você podia prorrogá-los. Então, eu voltava ao Nepal para pegar um novo passaporte e começar de novo. Da próxima vez, ia para o Sri Lanka, pegava um novo passaporte, pagava US$ 10 e começava de novo. Na vez seguinte, ia para Cabul, novo passaporte e começava de novo. Era assim que eu fazia para poder continuar na Índia praticando e estudando!

 

Então o senhor precisava “perder” o seu passaporte seguidamente?

Jimi Neal: Não, você apenas entra e diz que quer um novo! A embaixada norte-americana é muito rigorosa e sempre segue as regras. E a regra diz que é legal para um americano obter novo passaporte. Eles dizem: “me dê um motivo” e você responde que não gosta da foto.  Pode dizer qualquer coisa, pois sabe que é de acordo com as regras deles e eles têm que te dar um novo. E naquela época custava US$ 10 fazer um novo passaporte, agora são uns US$ 80 para cada nova página no passaporte. Então, de qualquer forma, esse era o meu jeito de ficar, e era bom, pois o Lama Yeshe e o Lama Zopa, um pouco depois do curso do Kopan, por volta de novembro, iam para o Tushita, que era o lugar deles em Dharamsala. Isso foi antes que eles oferecessem cursos lá, naquela época era só um lugar aonde eles iam. Como eu morava perto, pude ver muito o Lama lá também quando ele não estava tão ocupado. Tentar marcar um encontro com ele no Kopan, quando havia umas 250 pessoas loucas para vê-lo, era quase impossível, mas eu conseguia ter contato com ele no Tushita de uma forma natural. Assim, minha conexão só cresceu.

Eu acho que bem cedo eu já sabia que eu iria ser um monge. Desde quando entrei no monastério chinês com meus amigos… mas sabia também que não seria naquela tradição deles (risos).

 

E isso tudo aconteceu nos anos 1970?

Jimi Neal: Fiz meu primeiro curso de Kopan em 1974. Minha primeira viagem foi em 1971, e como disse, me conectei, mas não pratiquei o Dharma. Li livros, mas estava o tempo todo com minha namorada fumando maconha e fazendo trekking. Então, só quando eu voltei, percebi que havia perdido alguma coisa. Todo mundo estava fazendo esses cursos do Goenka, então eu disse “quando eu voltar eu vou fazer um curso de Vipassana!” Voltei para Seattle e trabalhei como motorista de ônibus por um ano. Assim, consegui poupar dinheiro suficiente para mais quatro anos na Índia.

Um amigo que vinha praticando sufismo me convidou para um grande evento sufista, era um verdadeiro circo espiritual com três palcos e lá, em um quadro de avisos, tinha um cartaz “Lama Yeshe e Lama Zopa Rinpoche – 7º curso de meditação Kopan Monastery Nepal”, então não precisei mais decidir, é isso que iria fazer, eu não precisava ficar procurando outros gurus ou lamas. Era a minha hora de voltar.

 

E como foi essa volta?

Jimi Neal: Bom, basicamente, fui fazer os cursos no Kopan, fiz os cursos de 1978 e 1979. E logo após o de 78, o antigo Karmapa – o grande lama de Karma Kagyu – veio para Boudhanath[7] para a abertura de um novo templo. Lama Yeshe, então, nos autorizou a ir para fazer 30 dias de iniciações em Kagyu. É importante lembrar que essas iniciações não significam que você se limita ao Karma Kagyu. Os tantras são de todas as linhagens. Por isso não se deve afirmar que existe um monge Kagyu, pois todos os votos dos monges vêm do Bodhisattva, não de algo como um Bodhisattva Kagyu. E foi lá que assumi o compromisso de fazer o Ngondro[8] completo. Primeiro, Lama Yeshe já havia dado a seus alunos um alto tantra, o Heruka Vajra Satva, para que nos conectássemos à sua linhagem. Então pedi permissão para o Karmapa e para o Lama e acrescentei toda essa prática de Ngondro, que foi muito intensa. Havia essa pequena cabana, então eu fiz minhas 100.000 prostrações, 100.000 orações de refúgio, que você faz ao mesmo tempo em que faz as prostrações, e fiz minha maior saddhana[9].

 

Deve ter sido uma experiência muito marcante! Afinal, um jovem ocidental que anos antes estava em um show do Jimi Hendrix, se via sozinho em uma cabana na Ásia fazendo 100 mil prostrações. Fale, por favor, mais um pouco sobre como o senhor se sentia durante as práticas.

Jimi Neal: Eu diria que tudo se resume à maneira como você faz para se ser muito especial! Porque muitas vezes você acha que deveria estar em outro lugar. Começa a pensar em coisas que poderiam ser interessantes, “talvez eu devesse ir ver esse Lama lá”, ou “devesse fazer essa prática X”, talvez eu queira fazer um pouco disso ou daquilo. Mas você se comprometeu em estar lá. Comprometi-me com o lama, com Lama Karmapa, e eu vou fazer! Aí você sabe que está exatamente onde deveria estar, você vive o presente e não tem tempo para pensar em nada além do Dharma. Com essas práticas construí uma fundação sólida. Lama explica que as prostrações são muito boas, porque seu corpo também está engajado. Nós, ocidentais, precisamos ter algo com o corpo também, sabe, não apenas mantras, e com as prostrações você tem os dois. Eu seguia meu compromisso do budismo Vajrayana. 100.000 refúgios, 100.000 prostrações, 100.000 vajra satvas, 100.000 oferendas de mantras e 100.000 guru yoga. Quando cheguei ao guru yoga fazia tanto o Kagyu quanto o Gelug, e depois, com Lama Zopa, mais 100.000 Dorje Khadro[10]. Neste último, você imagina todos suas delusões dentro das sementes de gergelim preto, e joga-as ao fogo. Tchau. É uma limpeza psicológica incrível.

 

Conclusão: Sutra do Girassol

Olha o Girassol, disse ele, lá estava a sombra cinzenta e morta contra o céu, do tamanho de um homem, encostada ressecada no topo do montão de serragem velha – ergui-me encantado – meu primeiro girassol (…) – cinzento, reclinado contra o crepúsculo, desoladamente rachado e ressecado pela fuligem e a fumaça e o pó de velhas locomotivas em seu olho (…)” (GINSBERG, 1999, p. 54)

Tal foi o encontro de Ginsberg com seu “primeiro girassol”, quando caminhando ao entardecer com o amigo Kerouac, com “olhos tristes” contemplavam um cenário que remete às ruínas do império norte-americano: latas amassadas, bitucas de cigarros, destroços de carros abandonados ao tempo, metal enferrujado de uma locomotiva já há muito incapaz de continuar a se mover, tudo coberto por sujeira, fuligem “industrial – moderna”. E então ele pergunta à “pobre flor morta”:

Quando foi que você esqueceu que era uma flor? Quando foi que você olhou para sua pele e resolveu que era suja e impotente locomotiva velha?” (ibid. p. 56)

E assim, com o seu belíssimo “Sutra do Girassol”, Ginsberg questionava a si, ao seu amigo, ao seu país e a todo o ocidente que se viam soterrados pela fuligem industrial da modernidade. Assim como ele e Garry Snyder, tantos outros anônimos, sufocados, foram buscar no oriente uma rajada de ar puro que pudesse soprar para longe o pó que se acumulava sobre nossa civilização. Seja em um zendô no Japão, em um monastério nepalense ou em uma cabana indiana onde sementes de gergelim preto são jogadas em uma fogueira entre prostrações e recitações, o ar puro encheu os pulmões desses peregrinos que ao retornarem para suas terras de origem trouxeram o testemunho dos efeitos do Dharma em suas vidas.

Na próxima edição apresentaremos a parte final da entrevista com Jimi Neal, na qual ele nos contará sobre sua mudança da Índia para a França para ajudar na fundação do Monastério de Nalanda[11], sobre as iniciações que recebeu de alguns dos maiores Lamas de seu tempo, sobre o relacionamento com Lama Zopa após a morte de Lama Yeshe e sobre a admiração e respeito que sente por Khandro-la, considerada uma emanação de Tara.

Nós não somos nossa pele de sujeira, nós não somos nossa horrorosa locomotiva sem imagem empoeirada e arrebentada, por dentro somos todos girassóis maravilhosos (…)” (ibid. p. 57)

 

Entrevista realizada por Thomás Rosa e Tamara Carneiro. Praticantes na Daissen Ji, Escola Soto Zen.

 

Referências:

 GINSBERG, Allen. O Uivo e outros poemas. L&PM, 1999.

KEROUAC, Jack. Os Vagabundos Iluminados. L&PM, 2004.

LOPES, Rodrigo Garcia. O uivo vivo de Allen Ginsberg. In: https://revistacult.uol.com.br/home/o-uivo-vivo-de-allen-ginsberg/

[1] GINSBERG, Allen. O Uivo e outros poemas. L&PM, 1999.

[2] O uivo vivo de Allen Ginsberg. In: https://revistacult.uol.com.br/home/o-uivo-vivo-de-allen-ginsberg/

[3] https://kopanmonastery.com/

[4] https://www.lamayeshe.com/teacher/lama-thubten-yeshe-0

[5] https://fpmt.org/teachers/zopa/

[6] Tushita Meditation Centre. O mesmo local no qual décadas depois fizemos nosso primeiro curso com Jimi Neal como nosso professor. https://tushita.info/

[7] Na periferia nordeste de Katmandu, longe da poeira e do caos da cidade, fica a Grande Estupa Boudha, um monumento budista com mais de oito andares de altura. (…) Na língua nepalesa, a estupa é mais frequentemente chamada de Boudhanath, “o Senhor do Despertar”, pois diz-se que o monumento irradia a própria energia da mente totalmente desperta do Buda. in: https://www.lionsroar.com/the-story-behind-the-stupa/

[8] “O Ngondro são as práticas preliminares do budismo tibetano, considerado como alfabeto com o qual o aluno escreverá toda a sua prática espiritual. São práticas intensas, que requerem um comprometimento, inclusive físico, daqueles que se empenham neste caminho. […] É dito que o Ngondro purifica os obscurecimentos e prepara a mente para receber e absorver os ensinamentos mais elevados”. In: https://www.odsalling.org/eventos/ngondro-praticas-preliminares-do-budismo-tibetano/

[9] Exercício espiritual pelo qual o praticante evoca uma divindade, identificando-a e absorvendo-a em si mesmo – a principal forma de meditação no budismo tântrico do Tibete. In: https://www.britannica.com/topic/sadhana

[10] Deidade cuja função é purificar as negatividades por meio de seu puja de fogo específico jin−sek (https://shiwalha.org.br/inicial/d/)

[11] https://nalanda-monastery.eu/

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