Ritmo Natural da Infância

 

Em um movimento interno nosso corpo fala, vibra, sente, vive. Por apenas alguns segundos feche os olhos e sinta seu coração bater. Tum tum, tum tum, tum tum… Preste atenção na sua inspiração e expiração e faça três respirações conscientes. Nós vivemos em ciclos harmoniosos de expansão e contração. É o nosso ritmo interno.

O ritmo interno de uma criança vai se modificando conforme seu crescimento e faz parte de seu desenvolvimento sadio e embora o batimento cardíaco e a respiração sejam funções automáticas de nosso corpo, esse conhecimento de ritmo não é inato.

De seu mundo interno para o mundo externo. Do eu para o outro, para o nós. Esse sentido de tempo a ser aprendido advém da observação da interdependência de todas as coisas.

A partir de definições e classificações, à primeira vista talvez vejamos apenas um lado dual daquilo que mais profundamente representa o todo manifesto.

O ritmo externo que carinhosamente construímos com as crianças aos poucos se integra ao ritmo interno. Elas passam a perceber o dia e a noite, a hora de dormir e a hora de acordar. Durante todo esse dia ao proporcionar momentos em que ela pode expandir, seja um brincar livre, uma dança, uma conversa, uma caminhada, um parquinho, intercalados de forma fluída com momentos de contração como guardar os brinquedos, estudar, silenciar, ler um livro ou contar uma história, ajudam a conduzir as crianças a se sentirem seguras e confiantes.

Essa previsibilidade da rotina que vai se repetindo, ainda que com variações, possibilita à criança se organizar internamente e a se desenvolver de forma harmoniosa e sadia. Esses dias vão se tornando semanas e meses que com suas próprias caraterísticas de início meio e fim se conectam ao ritmo da própria vida como nas estações do ano e modificam as vivências e percepções. Esses ciclos que se repetem fluidamente de forma flexível também preparam o olhar e o sentir para ser capaz de fluir junto às diferentes situações da vida: a impermanência.

A rotina diária é importantíssima na medida em que o tempo na rotina segue uma linearidade, uma contagem, um encadeamento que se repete, lembrando que a previsibilidade traz segurança e a repetição bem como a imitação são ferramentas muito importantes no aprendizado, ressaltando que o ritmo como um todo busca nossa integração individual e coletiva de forma harmoniosa com todos os seres, com a natureza e com a própria existência.

Identificar essas diferentes atividades e momentos do dia a dia, transitar por eles de forma natural, respeitando as necessidades das crianças e direcionando para essa conexão natural também nos leva a observar nosso próprio ritmo, como temos conduzido nossa vida, como nos distanciamos ou não daquilo que é natural. É cultivar presença. É revisitar o famoso diálogo:

“Mestre como é a iluminação”? – e ele respondeu – “Quando sinto fome, como, quando sinto sono, durmo”. E o discípulo disse – “Mas isso é o que todo mundo faz” –  e ele disse – Não, não é.”

 

Texto de Andreza Albuquerque. Praticante na Daissen Ji. Escola Soto Zen.

 

Referências:

Waldorf Infância Viva – Os ritmos (waldorfinfanciaviva.org)

Ritmo – Coleção Primeiríssima Infância | Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal (fmcsv.org.br)

Ritmo cotidiano na Escola Caminho do Meio – Escola Caminho do Meio (educarparaafelicidade.com.br)

 

  

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