Gira o mundo, gira o tempo. E como sempre, tudo sempre passa.
Emoções flutuando nas nuvens imaginárias de minha mente,
E a canção do amanhã sussurrada pelos lábios de hoje…
Quem sabe, quem poderia saber de tudo o que me falta dizer?
As palavras não dizem o que é mais importante saber.
Resta o silêncio das noites estreladas, dos desejos escondidos,
Dos amores não ditos, de tudo o que sonhamos obter.
Restam as mentiras e verdades que repetimos para nós mesmos,
E que insistimos em não querer compreender.
De tanto, tanto, resta apenas o agora.
E neste agora, resta muito pouco de nossa realidade.
De tudo o que realmente somos, resta apenas um milímetro.
E neste milímetro —
Medida pífia comparada com a grandeza de nossas ilusões,
Neste minúsculo espaço, oculta-se nossa verdade.
Pura e prístina, sem as máculas de um Eu inexato.
Ah, como seria belo alcançar este pouco de verdade!
E num momento de perfeita liberdade,
Resgatar sem medo nossos resquícios de sanidade!
Alias, ainda não. Ainda permaneço assim, dividido, sufocado,
Pisando em pedras, tropeçando em seixos no caminho.
Mas é justamente a dor de pisar nas pedras de nossas escolhas,
Que nos mantêm com os pés firmes no chão da existência.
Estou cansado. Mas não irei parar.
Forte aqui no peito, ainda bate a ânsia de continuar.
Seguirei encantado pelas minhas artes e poesias,
E com mais cuidado, em minhas pedras irei pisar.
Seguirei firme, costurando coragem e medo em minha pele,
Seguirei firme até onde puder. Um milímetro de claridade a cada vez.
Vamos. Caminhe comigo. Juntos, aprenderemos a viver.
Parte de O Silêncio e a Lua, projeto literário de Monge Kōmyō, Sensei da comunidade zen budista Daissen Ji. Escola Soto Zen.