O sexto patriarca

 

Um dos discípulos do mosteiro de Hung‑jen era um camponês analfabeto que, depois, se tornou o Sexto Patriarca. Seu nome era Hui-neng e, ao lado de Bodhidharma e Shakyamuni, é talvez o mestre mais renomado na história do Zen.

No relato biográfico de sua vida, o Sutra da Declaração de Princípios do Sexto Patriarca conta como chegou até Hung‑jen, depois de ter ficado todo iluminado ao escutar, por acaso, um monge ler o Sutra do Diamante. Hung‑jen, percebendo a sua Iluminação, colocou‑o para trabalhar na cozinha, pois não queria criar uma situação embaraçosa para os monges mais velhos. Passaram‑se oito meses até que Hung‑jen chamou todos os monges para uma reunião e anunciou que, se algum deles pudesse compor uma poesia, explicando a essência do Zen, lhe seria dada a “ʺtransmissão”ʺ, e receberia o manto e a tigela do Sexto Patriarca. O favorito para o título era o monge‑chefe, Shen‑hsin. Ele escreveu o verso a seguir, sem assinar, na parede do mosteiro, tarde da noite.

Nosso corpo é a árvore Bodi Nossa mente, um espelho brilhante. Cuidadosamente nós os limpamos minuto a minuto E não deixamos nenhuma poeira ali pousar.

Os outros monges ficaram maravilhados e decidiram que não poderia haver nada melhor. Entretanto, Hui‑neng, passando pelo corredor, perguntou pelo verso que seria lido para ele (ele não sabia do teste de Hung‑jen), e ditou seu próprio poema:

A árvore Bodi não existe Nem sequer um espelho brilhante. Já que tudo é vazio Onde pode a poeira pousar?

Todos ficaram surpresos, e o mestre, reconhecendo que este era o trabalho de alguém que verdadeiramente entendeu a essência da mente, apagou‑o, temendo que pudesse expor Hui‑neng à indignação dos monges com ciúmes, por lealdade a Shen‑hsui.

Hui‑neng tinha sido convocado para ver o mestre naquela mesma noite. Ele tinha recebido o manto e a tigela (que se dizia terem pertencido a Bodhidharma), e tinha sido avisado para seguir para o sul. Durante quinze anos, Hui‑neng ficou no anonimato até decidir que já era a hora certa de revelar que ele era o Sexto Patriarca. A escola do Zen, por ele fundada, passou a ser conhecida como Escola do Sudeste, e a de Shen‑hsui que aos poucos iria desaparecer, como Escola do Nordeste.

Tal era a genialidade de Hui‑neng que, com grande capacidade, transmitiu o Dharma para 43 sucessores! Daí em diante, apareceram muitas linhas diferentes de transmissão do Zen, sendo que essa foi a semente para o desenvolvimento das duas principais seitas Zen no Japão: a Soto e a Rinzai.

Texto produzido pela equipe da coluna de História e Sociedade.

 

Pin It on Pinterest

Share This