Na Trilha das Emoções: Olhar Interior

Muitos de nós chegamos ao Budismo confusos, perdidos com nossa vida, nossos pensamentos e sentimentos. Treinamos e praticamos arduamente para compreendermos a realidade e alcançarmos um mínimo de clareza de pensamento e coerência entre pensamento, fala e ação sem se deixar ser arrastado pelas tempestades de nossas mentes.

Se pensarmos que nosso cérebro está totalmente formado por volta dos 25 anos de idade, e vários estudos neurológicos apontam não só para a plasticidade cerebral, mas principalmente como nosso cérebro pode ser moldado através de nossas experiências, principalmente na infância, fazendo conexões e reforçando caminhos que podem funcionar juntos de maneira mais harmoniosa. Considerando tudo isso nos perguntamos: quais as experiências estamos oferecendo às nossas crianças?

Se como adultos nos sentimos perdidos, imagine agora como pode ser para uma criança lidar com sentimentos e emoções, se sentir com medo, triste, ansioso, eufórico. Sem saber o que está sentindo, de onde essa emoção veio, qual a causa e como lidar com ela.

Essa capacidade de se observar, de reconhecer, nomear, expressar e como responder a esses estados emocionais pode e deve ser trabalhado com as crianças!

Podemos introduzir a prática da atenção plena, a consciência do que está acontecendo aqui e agora em seu interior, o que estão sentindo. Um pequeno passo que pode parecer simples e até singelo, porém, pode ser um ponto de partida e ao mesmo tempo um ponto de chegada a um universo inteiro que existe dentro de nós.

Podemos assim levar alguns ensinamentos budistas de forma concreta e lúdica nas manifestações das atividades e interações diárias.

Algumas estratégias podem incluir a utilização de livros infantis para introduzir algumas emoções básicas como tristeza, medo, raiva, alegria e calma. Para crianças maiores podemos utilizar algum filme ou livros que contenham um vocabulário maior de emoções como compaixão, melancolia, serenidade, desamparo, euforia, etc.

É importante nas situações cotidianas ajudarmos as crianças a perceberem o que estão sentindo nomeando essas emoções. Nomear permite mudarmos nossas percepções e escolhermos nosso caminho, como agimos e reagimos.

Todas as emoções são constitutivas dos seres humanos e não devemos tentar classificá-las como boas ou más, ou mesmo tentar negá-las ou evitá-las, uma vez que nada disso faz com que elas deixem de existir ou diminuam seu impacto em nós, ainda que de forma inconsciente.

Indo um pouco mais adiante, lembre-se que nós flutuamos por diferentes espectros emocionais ao longo do dia de acordo com o que experienciamos. E é exatamente isso que precisamos entender e passarmos para nossas crianças: sentimentos são estados e não características fixas e permanentes, são condições temporárias e em constante fluxo de mutação, são: IMPERMANENTES!

Como explicar isso para uma criança? Como foi dito acima, podemos lançar mão de estratégias lúdicas como desenhar um termômetro meteorológico que pode indicar sol, chuva, tempestade, ventos, arco-íris, etc. Quando analisamos nossas emoções elas são como tempo e podem indicar alegria, raiva, frustração, tristeza, ansiedade e é difícil entender que nada dura para sempre!

Agora peça para a criança descrever como está a previsão do seu tempo interior e relacionar a um sentimento, sempre o nomeando, se preferir ela pode fechar os olhos. Em seguida, dentro deste cenário, ajude-a a visualizar que ela é o céu azul e as emoções são como nuvens, de formatos e tamanhos diferentes, mas que vão passar. Mesmo quando está muito escuro e não conseguimos enxergar, o céu azul ainda está lá!

Esse conceito de impermanência pode ser um pouco difícil principalmente para as crianças menores entenderem, mas se conseguirmos relacionar essa efemeridade dos sentimentos então aos poucos eles irão perceber por exemplo que estão sentindo raiva e não que são raivosos.

Outra forma de aprendermos a perceber nossas emoções é observar nossos corpos. Ao praticarmos atenção plena trazemos mais clareza e consciência ao que se passa em nosso interior. Nosso corpo também manifesta nossas emoções ao suar frio de ansiedade, ter impulsos violentos de bater gerados pela raiva ou frustração, acelerar os batimentos cardíacos quando estamos com medo e indo mais além identificamos sinais de sono, cansaço e fome. Saber diferenciar nossas necessidades físicas que muitas vezes geram estados emocionais também nos permitem não sermos arrastados pelo turbilhão de emoções que se instalam, mas reagirmos de forma clara e lúcida gerando maior harmonia e equilíbrio familiar e pessoal.

Lembrando sempre que não podemos mudar aquilo que não sabemos ou reconhecemos. As crianças aprendem por imitação e repetição, então devemos nós também buscar trabalharmos nossas emoções e sempre que surgir uma causa e condição propícia podemos recordá-las de perceber os sentimentos, nomeá-las, ligá-las a uma necessidade física ou não e criar estratégias para reagir da melhor forma possível, o que possibilitará ao longo do tempo criar um repertório de emoções variado e rico como um arco-íris ao invés de evocar respostas neutras como “me sinto bem” ou me sinto “mal”.

A expressão de sentimentos cria um espaço de harmonia e permite escolher melhores estratégias para resolver problemas, lidar com eventos e gradualmente desenvolver a percepção sobre a perspectiva do outro.

 

Texto de Andreza Albuquerque. Professora e praticante na Daissen Ji. Escola Soto Zen.

 

Indicações:

 

Livros:

Monstro das Cores, Anna Llenas – Editora‏: ‎ Aletria; 1ª edição (12 junho 2018)

Emocionário: Diga o que você sente

Edição Português | por Cristina Núñez Pereira e Rafael R. Valcárcel | Editora ‏ : ‎ Editora Sextante; 1ª edição

Filme:

Divertida Mente – Disney Pixar – 2015

 

Monstro das Cores – sugestão de atividade para baixar e fazer em casa. 

Clique com o botão direito em cima de cada imagem para fazer o download.

 

 

Referências:

Siegel, Daniel J., Bryson, Tina Pauyne. O cérebro da criança: 12 estratégias para nutrir a mente em desenvolvimento do seu filho e ajudar a sua família a prosperar. 1 edição- São Paulo: nVersos, 2015.

https://www.nytimes.com/2015/04/04/business/dealbook/the-importance-of-naming-your-emotions.html?src=twr&smid=fb-nytimes&bicmst=1409232722000&bicmet=1419773522000&bicmp=AD&smtyp=aut&bicmlukp=WT.mc_id&_r=1

neuroconecte.com.br/porqueascriançasprecisamaprenderanomearemocoes

 

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