A contemplação da impermanência no meio ambiente

 

Nesses primeiros meses de 2023 passamos em minha família por um processo de mudança de casa. Nesse processo trouxemos da outra casa uma rosa do deserto, que confesso, já estava condenada aos meus olhos. A rosa tinha aparência grande, bonita e exuberante. Entretanto, não tínhamos luz o bastante e com o tempo no vaso foi ficando apenas um pequeno tronco, onde mal se poderia reconhecer o que estava plantado ali.

O vaso era bonito, mas o pequeno tronco sem vida já não chamava a atenção e não sabíamos o que fazer ao certo com ele. Pensávamos que seria mais uma planta condenada e deixamos na janela, escondido, na área de serviço, do antigo apartamento até que pudéssemos escolher uma nova planta para colocar ali.

Passado algum tempo, chegou o dia da mudança e na correria de tantos objetos a trazer pensei que finalmente aquele “toquinho” de planta teria morrido, assim como aconteceu com outras plantinhas que não resistiram ao balanço e chacoalhar do vai e vem desse processo. Porém, a planta resistiu e ainda sem saber o que fazer, a deixamos na sacada, com bastante sol. Em pouco mais de dois meses eis que olhamos para a flor do deserto e daquele pequeno tronco sem vida agora crescem folhas verdes com tom vívido e outros ramos, sendo que em um deles começa a desabrochar um botão de flor.

Observando essa situação me recordo das minhas atividades no órgão ambiental da minha cidade. Quando trabalhamos com áreas degradadas, com espaços no qual o meio e a vegetação estão totalmente descaracterizados, repletos de entulho, podemos imaginar que nada mais surgirá desse espaço. Claro que dependendo das condições da área e das intervenções ali realizadas, não é possível que ocorra um processo de recomposição de flora e fauna a contento. Porém, em diversos casos, basta fornecermos as condições necessárias para que a vida de manifeste em pleno vigor.

Nesse mesmo sentido a animação Wall-E (2008, Pixar) exibe a situação fictícia do planeta terra, no ano de 2805, totalmente devastado pela humanidade, repleto de lixo no qual habitam apenas robôs e baratas. O filme apresenta em uma cena o encantamento do protagonista, o robô “humano” Wall-E com o nascimento de uma pequena planta ali. Assim, me senti também com a nossa simples flor do deserto. Contemplar esse movimento de vida, de resistência, de surgimento de algo tão delicado como o nascimento de uma flor, de continuidade por um tempo e depois de fim da flor é algo auspicioso. Os fenômenos naturais possuem uma grande capacidade de nos lembrar desse conceito primordial do budismo que é a impermanência.

Por fim, enquanto praticante, percebo nesses pequenos detalhes da vida cotidiana os simbolismos que há no budismo e particularmente no Zen. Compreendo o porquê de a rosa ser uma lembrança da impermanência em um altar zen budista e que talvez exatamente por isso, seja tão bela.

 

Liana Oliveira Lopes Borges. Auditora Fiscal do Meio Ambiente, praticante na Daissen Ji. Escola Soto Zen.

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