Entre as práticas recomendadas no Budismo, especificamente aquelas conhecidas como o Nobre Caminho Óctuplo, a “compreensão correta” parece ser o primeiro passo na jornada de um praticante. Esta prática se refere a compreensão correta das Quatro Nobres Verdades ensinadas por Buda, mas, dada a interdependência de tudo, podemos expandir este princípio à “compreensão correta” (ou ideal) sobre nós e o meio em que vivemos.
A compreensão ideal sobre o meio ambiente é, sem dúvida, aquela derivada das informações científicas. Se atendo às evidências e indo além dos limites das percepções humanas, a ciência é o melhor que temos como ferramenta para entendermos as ações e consequências na natureza. Graças à ciência, temos melhores chances de acertar em nossas ações em prol de um mundo mais equilibrado e com menos crises ambientais.
As mudanças climáticas globais, de longe o problema ambiental mais importante para todos os povos no planeta, é uma emergência que precisa ser compreendida a fundo e com atenção por todos. Este problema aproxima cada vez mais a humanidade de cenários catastróficos e assim requer medidas urgentes. Quanto mais demorarmos para termos ações adequadas, mais difícil será para reverter as crises que nós e nossos descendentes terão que enfrentar.
A principal causa do problema das mudanças climáticas, conforme as evidências científicas, é o efeito estufa intensificado pelas ações humanas. O desmatamento de florestas e a emissão dos gases do efeito estufa, como o gás carbônico e metano, são as ações (equivocadas) que mais contribuem com o aquecimento global além do normal. Pode ser que, no momento, os efeitos das mudanças climáticas já se apresentem em forma de períodos mais longos de seca e estiagem em países como Brasil, Bolívia, Paraguai e Argentina.
A COP26 (26ª Conferência das Partes), a mais importante reunião de lideranças mundiais sobre o clima, que ocorre entre 31 de outubro e 12 de novembro de 2021, está sendo sediada na cidade de Glasgow (Escócia) e tem grandes desafios pela frente. Esse evento visa promover acordos importantes para redução de emissão de gases do efeito estufa, para o combate do desmatamento de florestas e para investimentos que beneficiem a recuperação e preservação ambiental. Até então, lideranças de mais de 100 países, incluindo o Brasil, assinaram declaração que prometem acabar com o desmatamento até 2030. Estes países abrigam cerca de 85% das florestas do planeta.
Há preocupações quanto ao fato de não sabermos se tal prazo é adequado para mitigar as mudanças climáticas. Até lá há tempo suficiente para o desmatamento, mesmo em suposta redução, causar danos irreversíveis ao clima global. Além disso, já tivemos exemplos de não cumprimento de ações acordadas em COPs anteriores e é sabido que determinados países não têm suas práticas coerentes com os termos firmados.
Uma vez tendo uma compreensão adequada sobre esta emergência global, nos resta buscar as ações adequadas a nível individual e coletivo. Seja qual for o meio possível para cada um, é importante questionar e fazer pressão sobre as lideranças que têm o poder decisão sobre algo tão importante. Lembremos que esta crise ambiental poderá levar sofrimento a muitas pessoas e outros seres e, portanto, nos coloca no dever de buscar e contribuir com as soluções tangíveis.
O Budismo, em seus mais de 2500 anos, transpassou a história da humanidade em vários e diferentes cenários. Logicamente, em cada momento havia ações importantes e determinantes a serem feitas. Com a compreensão sobre nós e mundo ao nosso redor disponível hoje, o fato é que o meio ambiente é um assunto que deve ser levado a sério por todos e que nossas ações sobre os problemas ambientais precisam ser para agora.
Texto de Diego Dias da Silva. Biólogo, desenhista e praticante na Daissen Ji. Escola Soto Zen.
Fonte:
COP26: Brasil e cerca de 100 países se comprometem a reduzir emissões de metano em 30% até 2030
COP26: O que se sabe e por que realmente importa?
https://news.un.org/pt/story/2021/10/1768682
COP26: Mais de 100 países se comprometem com o fim do desmatamento BR
https://news.un.org/pt/story/2021/11/1768962
Os novos dados que apontam crise climática ainda mais ‘preocupante’ para o Brasil
